-Segunda Parte-
Além das fronteiras consabidas, um mar de
sertão
No entanto, quase como uma herança genética, essa inquietação veio a se tornar
uma característica da personalidade do povo local. O que significava nos
primórdios um esforço de sustento, depois promessa de enriquecimento,
tornou-se com o passar do tempo em um modo de viver, um jeito de ser paulista.
Surgia nos hábitos e costumes um novo rito de passagem, pelo
qual, gerações de meninos de treze ou quatorze anos foram levados a
participar dessas expedições, marcando assim o início da vida adulta.
Por outro lado, para a enorme legião de mamelucos que habitavam as
vilas, isto representava uma oportunidade de rompimento com a marginalização em
que viviam. Excluídos do mundo colonial e desprovidos de terras e
títulos, essa gente enxergava no desbravamento dos sertões, talvez
aquela que fosse a única chance real de redenção de suas vidas. A
emancipação de uma cidadania de segunda classe.
As bandeiras eram empreendimentos de caráter estritamente particular. Em pouco
tempo se tornaram um modo de vida inerente aos paulistas. Quase todos os dias
havia uma chegando ou saindo das terras planaltinas de São Paulo.
Exemplo típico de como se dava essa movimentação corriqueira, foram as
atividades do bandeirante Manoel de Campos Bicudo, que durante a sua existência
enveredou 24 vezes pelo sertão.
(Nota
do Redator) - O "marchar à paulista" era o nome que se dava ao hábito
comum nas bandeiras, de andar a pé muitas léguas sem o uso de calçados,
como faziam os índios. Invariavelmente começava ainda de madrugada e ia
pouco além do meio-dia, mais tardar até duas ou três horas da tarde.
Tempo para preparar a refeição, descansar e ajeitar o pouso, mesmo
porque o período de insolação no sertão era curto.
Portanto, a imagem do
bandeirante usando botas de cano longo, comum em quadros e estátuas, não é nada
mais do que um recurso artístico de glamurização do
personagem.
Fonte: Essa série é uma compilação
da Coleção Terra Paulista
- Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São
Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho
originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2
(Imprensa Oficial do Estado)
Postado por: Enéas M.F.
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