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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nossa Senhora das Mercês restaurada em sua glória

A imagem de Nossa Senhora das Mercês, confeccionada em terracota, foi encontrada sob os escombros de sua capela, por uma equipe de buscas comandada por José Carlos Imparato, professor de odontologia da USP e arqueólogo nas horas vagas, morador nas vizinhanças. No dia quatro de janeiro, quando as águas da enchente ocorrida no dia 1º começaram a baixar, ela foi localizada sob uma grossa camada de barro e madeira. Por sorte, como seu rosto ficou encaixado em uma pequena lacuna de madeira, ele e parte do manto e das mãos, não sofreram tantas avarias. O Iphan cuidou do restauro de NS das Mercês, assim como das imagens de São Luiz de Tolosa (patrono da cidade), NS das Dores, Cristo Crucificado, além de outros 12 santos e anjos resgatados das ruínas da Igreja Matriz e da Capela das Mercês. O trabalho delicado de recuperação, totalmente manual, durou cerca de dez meses. Inicialmente foi feita uma higienização, pela limpeza com pincéis. Em seguida a fixação da policromia, para evitar o descolorimento da pintura, assim como a limpeza fina. Na etapa seguinte cuidou-se da colagem dos pedaços quebrados e modelagem das partes perdidas. A mais danificada foi N.S. Mercês, quebrada em 92 peças. Depois foi feito o acabamento, nivelando-se cada peça com massa polimérica e lixando. Na última etapa, providenciou-se a reintegração cromática, a pintura em suas características originais, executada após pesquisa de cores e tons. A nova pintura é feita em um tom levemente mais claro, para poder ser diferenciada nesta versão. Finalmente, aplicou-se o verniz, dando o acabamento final.

                            Uma santa para todas as ocasiões
A Nossa Senhora das Mercês venerada em São Luíz do Paraitinga, na capela que leva seu nome, é uma imagem rara e peculiar da Mãe Santíssima. Chamando atenção pelo ventre crescido, que revelaria sua gravidez do Menino Jesus, a imagem comove quem vê, pela sua expressão de profunda beatitude e acolhimento maternal.

Imagens da Imaculada representando o que se chamou de "Culto à Expectação do Parto", foram comuns na Europa em séculos passados. O registro mais antigo vem de Portugal, datando de 1212, dando conta que na localidade de Terras Novas venerava-se uma imagem da Senhora nessas circunstâncias, na capela-mor da Igreja de Santa Maria do Castelo. Ali, como no restante da Península Ibérica, elas eram cinzeladas em pedra ou feitas em terracota, porém, nas versões reproduzidas no Brasil durante os primeiro anos da Colonização, foram confeccionadas em argila ou talhadas na madeira.

Desde então, pede-se sua intercessão para abençoar nascimentos e aliviar as dores das parturientes, pelo o que a Puríssima passou a ser conhecida também como Nossa Senhora do Livramento, por ajudar na "liberaração do ventre” das mulheres grávidas.

Nossa Senhora das Mercês também teve outras representações. Por ter sido venerada como protetora dos escravos e cativos, foi simbolizada, por exemplo, segurando grilhões rompidos.

Em meados do séc. XIX, o Papa Pio IX, na bula Ineffabilis Deus, definiu o dogma da Imaculada Conceição de Maria, preservando a Virgem Maria “jamais poluída pela mancha do pecado”. Extrapolando no zelo, muitos padres decidiram pelo banimento de toda iconografia da Madonna grávida, enterrando-a sob os altares das igrejas. Assim foi feito e somente em fins daquele mesmo século, quando a proibição foi abrandada, muitas dessas imagens proscritas foram resgatadas e reabilitadas. Por nada disto, porém, passou a santa em São Luiz do Paraitinga, onde sempre permaneceu descoberta no altar e cultuada.

Em tempos idos, as bênçãos da Santa eram igualmente invocadas pelos escravos do vale do Paraíba, em pedidos por liberdade. O ato resgatava as origens da Nª Sª das Mercês, patrona da Ordem de La Merced, dos padres Mercedários, surgida em 1218, promovendo a luta pela libertação dos mouros postos em cativeiro na Espanha.

A imagem pertencente a São Luiz do Paraitinga, foi trazida por uma devota em 1809, cinco anos antes da inauguração de sua capela, construida exatamente para abrigá-la. Sua origem mais provável é a Peninsula Ibérica.

Em uma futura postagem contaremos mais sobre as imagens da santa grávida.

                                      Invocação de Padre Vieira (*)

“Nossa Senhora da Vitória é dos conquistadores; do Desterro é dos peregrinos; da Lua é dos desencaminhados. Mas a Nossa Senhora das Mercês é de todos. Porque a todos, indiferentemente, está prometendo e oferecendo as mercês que lhe pedirem.

Estais tristes e desconsolado ? Não é necessário chamar pela Senhora da Consolação. Valei-vos da Senhora das Mercês e ela vos fará a mercê de vos consolar. Estais aflito e angustiado ? Não é necessário chamar pela Senhora da Angústia.
Valei-vos da Senhora das Mercês e ela vos fará a mercê de vos acudir nas vossas angústias. Estais pobre e desamparado ? Não é preciso chamar pela Nossa Senhora do Amparo. Valei-vos da Nossa Senhora das Mercês que ela vos fará a mercê de vos amparar.
Estais embaraçado e temeroso em vossas pretensões ? Não é necessário chamar Nª Sª do Bom Sucesso. Valei-vos à Virgem das Mercês que ela vos fará a mercê de vos dar o sucesso que vos convém.
Estais enfermo e desconfiado dos remédios ? Não é necessário chamar pela Nossa Senhora da Saúde. Acudi à Senhora das Mercês e ela fará a mercê de vo-lo dar saúde, se for para seu serviço.
Estais, finalmente, para embarcar o que tendes ? Não é necessário chamar pela Nossa Senhora da Boa Viagem. Acudi à Senhora das Mercês e ela vos fará a mercê de vos levar em paz e a salvo. De sorte que todas as atenções que Nossa Senhora costuma dar, invocada sob tantos diferentes títulos, como os que pelo mundo e em nossa pátria lhe são atribuídos, todos estão incluídos neste das mercês, porque nele se contém todos.”

(*) Padre Antonio Vieira (Lisboa, 06 de Fevereiro de 1608 – Bahia, 18 de Julho de 1697), foi um religioso místico jesuíta, inspirado escritor e orador, notável personagem dos Velho e Novo Mundo, onde viveu.

Postado Por: Enéas M.F.

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