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sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Poética do Vale (II)


Viração

  É a viração do mundo:o que onte' era doce, amarga hoje; o que fora bom, fica ruim: e tudo volta a ser o que já foi....às vezes...
                 
(Valdomiro da Silveira (Cachoeira Paulista 1873-1941 escritor e pesquisador de costumes e linguagem paulistas)


  Postado por Enéas M.F.

sábado, 23 de abril de 2011

Terra Paulista

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret
-Terceira Parte-

Povoamentos brotam pelas estradas que caminham 

   Para se adaptar da melhor forma às adversidades do meio ambiente hostil, os bandeirantes foram se inspirar na sabedoria indígena, copiando daqueles brasileiros originais muitas de suas práticas.
   Levava-se alimentos suficientes somente aos primeiros dias da jornada pelo sertão. Era basicamente a “farinha de guerra”, aquela extraida da mandioca, cozida e socada. E sal. O restante viria a ser provido pelo mato, outras vezes vinha das roças tomadas dos índios, além da caça e pesca. Em caso extrema de necessidade, comiam-se insetos e animais peçonhentos.
   A exemplo dos silvícolas, todos se locomoviam com pés descalços e roupa apenas indispensável à uma boa caminhada. E para a defesa pessoal, as armas também eram indígenas. Um aparato mais eficaz para romper o emaranhado das selvas e vencer seus desafios.
   Na retaguarda do conhecimento, era indispensável saber da farmacopéia do sertão. Do mundo vegetal vinham as especiarias, emplastros, etc, e do animal, dentes de jacaré, unhas de tamanduá e cabeças de cobras, empregados em finalidades variadas de cura.
   No rastro dessas expedições para o "mar de dentro", o sertão, brotavam os povoamentos feito em arraiais, minas, roças e ranchos, embriões de inúmeras cidades brasileiras.
   O principal entroncamento das bandeiras vindas do planalto de Piratininga era Taubaté. Que servia de passagem aos que iam e voltavam do Rio de Janeiro. Com o passar do tempo o lugar tornou-se um importante pólo de bandeirantes e sertanistas que também se dirigiam, sobretudo, ao sertão dos Goitacazes, hoje Minas Gerais.
   Um acontecimento inesperado deu novo curso à História. Uma maré humana de mineradores, comerciantes e aventureiros paulistas que exploravam o ouro na província mineral de Goitacazes, entrou em conflito com os portugueses pelo direito de exploração dos achados minerais. Deu-se então a guerra dos Emboabas que durou de 1707 a 1709, com a derrota dos paulistas.
   Para pacificar os ânimos foram criadas as capitanias de São Paulo e das Minas de Ouro (posteriormente Minas Gerais), desvinculadas do Rio de Janeiro e ligadas diretamente à Coroa Portuguesa. E a vila de São Paulo foi elevada à categoria de cidade.
   Por sua vez, os bandeirantes buscaram outros rumos, pelos sertões do que viriam a ser Mato Grosso e Goiás.
Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
Postado por: Enéas M.F.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Da Natureza dos Homens


      Reflexões especiais que oferece a boa leitura

"Quando as pessoas pensam que estão pensando, estão apenas reorganizando seus preconceitos."
    William James, pai da filosofia do pragmatismo. 
 "Vivo porque posso morrer quando quiser; sem a idéia do suicídio, já teria me matado há tempos."
    Emil Cioran, pensador romeno, que acabou morrendo aos 84 anos.
 "Não,eu sei."
    Carl Jung, psiquiatra suíço, ao ser perguntado se acreditava em Deus. 
 "Um relógio quebrado, por mais inútil que seja, ao menos vai marcar a hora certa duas vezes no dia."   
        Woody Allen, comediante multitalento norte-americano

domingo, 17 de abril de 2011

Terra Paulista

             -Segunda Parte-

    Além das fronteiras consabidas, um mar de sertão

   No entanto, quase como uma herança genética, essa inquietação veio a se tornar uma característica da personalidade do povo local. O que significava nos primórdios um esforço de sustento, depois promessa de enriquecimento, tornou-se com o passar do tempo em um modo de viver, um jeito de ser paulista.
   Surgia nos hábitos e costumes um novo rito de passagem, pelo qual, gerações de meninos de treze ou quatorze anos foram levados a participar dessas expedições, marcando assim o início da vida adulta.
   Por outro lado, para a enorme legião de mamelucos que habitavam as vilas, isto representava uma oportunidade de rompimento com a marginalização em que viviam. Excluídos do mundo colonial e desprovidos de terras e títulos, essa gente enxergava no desbravamento dos sertões, talvez aquela que fosse a única chance real de redenção de suas vidas. A emancipação de uma cidadania de segunda classe.  
   As bandeiras eram empreendimentos de caráter estritamente particular. Em pouco tempo se tornaram um modo de vida inerente aos paulistas. Quase todos os dias havia uma chegando ou saindo das terras planaltinas de São Paulo.
   Exemplo típico de como se dava essa movimentação corriqueira, foram as atividades do bandeirante Manoel de Campos Bicudo, que durante a sua existência enveredou 24 vezes pelo sertão.
   (Nota do Redator) - O "marchar à paulista" era o nome que se dava ao hábito comum nas bandeiras, de andar a pé muitas léguas sem o uso de calçados, como faziam os índios. Invariavelmente começava ainda de madrugada e ia pouco além do meio-dia, mais tardar até duas ou três horas da tarde. Tempo para preparar a refeição, descansar e ajeitar o pouso, mesmo porque o período de insolação no sertão era curto.
   Portanto, a imagem do bandeirante usando botas de cano longo, comum em quadros e estátuas, não é nada mais do que um recurso artístico de glamurização do personagem.  

Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)

Postado por: Enéas M.F.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Poética do Vale (I)

Água Funda

Rio Paraitinga na altura do bairro Verde Perto
Foto por Arnaldo Bonsch

A gente passa nessa vida como canoa em água funda.
Passa.
A água bole um pouco.
E depois nada mais fica.

Ruth Guimarães - Cachoeira Paulista (1920), poetisa e escritora negra, imortal da Academia Paulista de Letras, discípula de Mario de Andrade.


Postado por: Enéas M.F.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Terra Paulista

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret
-Primeira Parte-

Na sobrevivência, um jeito próprio de ser

   Quase sempre quando se fala em visitar cidades históricas, vem à mente localidades como Ouro Preto, Parati, Salvador e Olinda. No entanto, as cidades paulistas fundadas na época do bandeirantismo e tropeirismo, também guardam belos resquícios históricos de uma saga que influenciou profundamente a formação do Brasil.

   Nessas paragens, começando pela arquitetura doméstica, passando pelas roupas, chegando aos alimentos, vamos encontrar algumas das marcas deste passado aventureiro. Que se manifestam também nos sotaques de sua gente, nas roupas que vestem, nos odores dos fogões a lenha, nas músicas e cantorias, nos contos e um sem fim de festas populares.

   Os traços desta herança podem ser encontrados em fotos remanescentes nas paredes, na visita a uma antiga sede de fazenda ou mesmo morando nela. Ela também se abriga numa antiga cantiga de ninar, que entoada, faz ecoar uma longínqua lembrança africana.

   O passado está ao alcance das mãos, quando tocamos as rendas de uma toalha sobre a mesa ou repousamos numa rede. Assim como no colo da moça, que enfeita um pequeno camafeu e mesmo quando saboreamos um doce de tacho, resgatado de um velho caderno de receitas da família, de que herdam sucessivas gerações.

   São momentos que formam uma imperceptível cadeia de aconchegos e memórias, de onde surge a deliciosa sensação de estar em casa. São legados de um tempo remoto, sedimentando na memória e que moldam a natureza do ser paulista.

   Tudo começou num passado distante, provavelmente ao abrigo de uma tapera, à beira de algum rio que cortava o planalto de Piratininga. Alí forjava-se uma expressão verbal tipicamente paulista, a primeira e mais forte delas: “buscar remédio”.

   Em voga desde o fim do século XVI até o início do XVII, ela tinha a conotação especial de buscar a vida fora de casa. Mais do que sair atrás de riqueza, pedras preciosas e índios, representava sobrevivência pura e simples. Naquele fim de mundo, ela significava, sobretudo, a procura de alternativas à pobreza, da dura vida que se tinha no planalto de Piratininga, onde os religiosos fundaram a vila de São Paulo.

   Essa motivação que obrigava os homens se ausentarem do povoado, embrenhando-se no sertão, foi um fenômeno eminentemente prático que abrangeu três distintos capítulos da história paulista: o bandeirantismo, o movimento monçoeiro e o tropeirismo.
Tudo movido por um dinamismo pragmático, mas que naquele primeiro momento significava apenas a sobrevivência.


Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
Postado por: Enéas M.F.

sábado, 2 de abril de 2011

A lenda da Cobra Grande







Benito Campos

O Paraitinga virou mar e tão mal fez a cidade

Que de idade secular, história, taipas, pedras...

Nada, nada em pé ficou... E veio então a minha mente

A demente lenda da cobra que desdobra no aparente

Tão dormente rio eterno, hiberno engodo sinuoso

Desgostoso o curvo corpo, torto e solto nas tranqueiras

Bem liberta dos altares o feto filho dos malditos

Lenda esta de duzentos anos... Insano mar de água e lodo,

Pinel bufo, árduo fadário com tantos contos de vigários,

Tão real se fez presente, na crença boba dos incautos...

Édipo, mãe, filho, incestos, padres, escravos, lendas, cidade...

O que restou... Ah!

O que restou só foi saudade neste mundo não se pode

Cometer nenhum pecado, pois Deus, Deus, ser onipresente

É aqui, deveras, um Deus irado...

A Cidade de Fé renasce dos escombros

A cidade de São Luiz do Paraitinga, localizada a 43 km de Taubaté, São Paulo, ficou submersa durante três dias. Enchentes destruíram a cidade paulista nos primeiros dias de 2010, que teve um volume de 200 milímetros de água só no dia 31 de dezembro de 2009, o equivalente a 200 litros por metro quadrado. O documentário "Cidade de Fé" mostra as histórias das pessoas que viveram a tragédia e, hoje, com fé e união, reconstroem suas memórias.   

Alunos: Priscila de Sousa, Bruna Cortez, Carolina Neves, Larissa Marçal, Angélica Boscariol, Fabrício Cortinove, Fernanda Vendramini, Letícia Genésio, Nádia Machado, Richard Pereira e Thaís Morrone.
Orientação: Heidy Vargas e Fernando Vilar

ESTE DOCUMENTÁRIO FOI PRODUZIDO POR ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

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