Menu

sábado, 10 de dezembro de 2011

Da Natureza dos Homens

  
 
Reflexões especiais que oferece a boa leitura.
 "Todas as coisa já foram ditas, mas como ninguém presta atenção é preciso repetí-las sempre."
   André Gide, escritor francês. 
"É impossível não acabar sendo como os outros julgam que somos."
   Júlio César, imperador; e louco na maior parte do tempo. 
 "Daquilo que parece ser, tudo pode ser, como não ser."
   Nausífanes, filósofo grego.
"A espiritualidade é uma inquietação constante, uma procura. Superar a si mesmo, não ficar imóvel. Ao passo que o religioso tende a ser parado, acomodado em suas coisas, no seu ritual."
   Mário Schenberg, físico teórico brasileiro, político e crítico de arte.
  
 "Bom não é ficar sem ter o que fazer; o divertido é estar cheio de obrigações e não fazer nada."
   Mary Wilson Little, escritora norte-americana.
Postado por: Enéas M.F.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Moonglow - Carly Simon


Moonglow

It must have been Moonglow,
Way up in the blue,
It must have been Moonglow,
That led me straight to you

I still hear you sayin'
Dear one hold me fast,
And I start to prayin'
Oh Lord, please let this last,
We seem to float right through the air,
Heavenly songs seem to come from everywhere,
And now when there's Moonglow,
Way up in the blue,
I always remember,
That Moonglow gave me you
That Moonglow gave me you

We seem to float right through the air,
Heavenly songs seemed to come from everywhere,
And now when there's Moonglow
Way up in the blue,
I always remember,
That Moonglow gave me you,
That Moonglow gave me you,
That Moonglow gave me you

O Brilho da Lua

Deve ter sido o brilho da lua,
Caminho para o azul
Deve ter sido o brilho da lua
Que me levou direto a você

Eu ainda te ouço dizer
Querida me abrace
E eu começo a rezar
Oh senhor, por favor me conceda esta prece,
Nós parecemos flutuar sobre o ar
Músicas angelicais parecem vir de todo lugar
E agora onde há o brilho da lua
O caminho para o azul
Eu sempre lembro
Que o brilho da lua me deu você
Que o brilho da lua me deu você

Nós parecemos flutuar sobre o ar
Músicas angelicais parecem vir de todo lugar
E agora onde há o brilho da lua
O caminho para o azul
Eu sempre lembro
Que o brilho da lua me deu você
Que o brilho da lua me deu você
Que o brilho da lua me deu você

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Poética do Vale (IV)



Oração antiga
Virgem Maria de grande valor
coroada de estrelas
cercada de flor
Lá no céu tem treze estrelas
todas as treze a par com a Lua
Nossa Senhora no meio
brilha mais do que nenhuma

    Essa é uma prece do folclore local, muito recorrida no vale do Paraíba desde tempos idos. Maria Edith foi apresentada a esses versinhos pelo pai ainda criança e anos depois, quando já era uma figureira respeitada em Taubaté, ela se inspirou para criar um imagem especial Santíssima. Nesta homenagem, ela ganhou uma coroa de flores na cabeça, assim como o tom escuro da pele, semelhante à imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil. Um detalhe inconfundível é a bandeirinha nacional em seu manto azul celeste. As figureiras de Taubaté são exímias na arte de esculpir peças em barro crú que falam do dia a dia do vale do Paraíba.
    O trabalho de modelar pequenas figuras, com destaque as religiosas, foi estimulado pelos frades franciscanos do Convento de Santa Clara, daquela cidade, a partir do século XVII.
    As primeiras encomendas, feitas por ocasião das festas natalinas, eram de cenas relativas ao presépio franciscano, como a manjedoura, São José e Nossa Senhora, os Reis Magos, além dos animaizinhos.
Revoada de angolas
     Com o passar do tempo foram surgindo outros personagens representando figuras do cotidiano e do imaginário popular, como as aves de dimensões entre três e 25 cm.   Essas imagens se caracterizam pelas cores vibrantes, como amarelo, verde, dourado, preto, vermelho prateado, entre outros matizes, predominando, no entanto, o azul carregado.

Postado por: Enéas M.F.

sábado, 8 de outubro de 2011

A Mercês retorna à paisagem renovando as esperanças‏



A capela se abre para a primeira missa


  •  Depois de longa privação e impotência, o regozijo por uma força que está voltando, por uma fé vívida em um amanhã e em um depois de amanhã, por um súbito senso e antegozo de um futuro, de aventuras iminentes, de mares que estão novamente abertos, de objetivos que são outra vez permitidos, em que tornamos acreditar.
  •                                                 Nietzsche

  A capelinha das Mercês, que havia sido varrida da paisagem de São Luiz do Paraitinga na grande enchente de 2010, está de volta ao pé do morro do Cruzeiro.
    Reconstituida por completo, recuperou até detalhes originais perdidos pela ação do tempo, revestiu-se de sua antiga pintura colonial e ganhou um reforço estrutural para resistir com mais solidez pelo novo tempo que se inicia.
    Quando foi devolvida à emoção dos luizenses em 25 de setembro, operou também a façanha de regenerar a tradição com que se comemorava o dia de Nossa Senhora das Mercês (24), uma data que havia se perdido no antigo calendário das festividades religiosas da cidade.
     Depois de abertas as portas, a centenária imagem de terracota policromada da santa foi reconduzida à devoção de antigos e novos fiéis. Feita em pedaços naquela tragédia, ela retornou inteiramente restaurada ao ponto mais alto do altar, desta que é a primeira igreja colonial de São Luiz.

PATRIMÔNIO ESPECIAL
    O resgate deste patrimônio começou no instante após a tragédia, dando-se prioridade às peças iconográficas. A mais preciosa delas, a imagem de Nossa Senhora das Mercês, datada do Séc. XVIII, foi logo encontrada sob os escombros, por uma equipe de buscas arregimentada por José Carlos Imparato, professor de Odontologia da USP e arqueólogo nas horas vagas, morador nas vizinhanças.
    Por ter ficado encaixada num desvão, em meio a lama e entulhos, as partes mais delicadas do seu rosto, o maior pedaço do manto e suas mãos, preservaram-se com poucas avarias. O tronco, no entanto, ficou severamente comprometido.
    O delicado trabalho de recuperação, com detalhismo quase cirúrgico, durou meses e coube à restauradora Juliana Fabrino tratar da remontagem dos 94 cacos em que se fragmentou a santinha, o que lhe devolveu a aparência inconsútil de origem.
   
Antes
   "Ela foi recuperada na sua integridade, sem deixar faltar nada, pois o fiel que a venera não quer saber de rezar para uma imagem mutilada. Ao contrário de uma peça de museu, que mesmo estando incompleta pode ser exibida " - explicou João Dannemann, titular da cadeira de Conservação e Restauro, da Universidade Federal da Bahia, supervisor maior do trabalho de reparação iconográfica em São Luiz do Paraitinga.

Dannemann e uma equipe de restauradores foram contratados pela construtora Biapó, que atuou no centro histórico luizense, a serviço do Iphan. Essa empresa goiana é a única do País a trabalhar exclusivamente na restauração de patrimônios históricos,com uma carteira de mais de 100 obras executadas.
Depois
   Pelo seu ateliê de restauro montado na rua do Rosário passaram as imagens de São Luiz de Tolosa (patrono da cidade), N.Sª das Dores, o Cristo Crucificado, além de outros 12 santos e querubins, todos resgatados sob as ruínas da Igreja Matriz e da Capela das Mercês.

IMAGEM SINGULAR
         A Nossa Senhora das Mercês venerada em São Luíz do Paraitinga é uma imagem rara e peculiar da Mãe Santíssima. Chamando atenção o ventre volumoso sob o escapulário, que revelaria sua gravidez do Menino Jesus, ela comove a quem vê, pela sua expressão de profunda beatitude e acolhimento maternal.
   Imagens da Imaculada representando o que se chamou de "Culto à Expectação do Parto", foram comuns na Europa em séculos passados, de onde também procedeu a santinha luizense. O registro mais antigo que se tem notícia vem Portugal, dando conta que na localidade de Terras Novas, em 1212, já se venerava uma imagem da Senhora nessas circunstâncias, na capela-mór da Igreja de Santa Maria do Castelo. Como se deu posteriormente também com representações similares de N.Sª do Ó.
Imagem rara
Em meados do séc. XIX, o Papa Pio IX, na bula Ineffabilis Deus, definiu o dogma da Imaculada Conceição de Maria, preservando a Virgem Maria “jamais poluída pela mancha do pecado”. Extrapolando no zelo, muitos padres decidiram por conta própria banir toda iconografia da Madonna grávida, enterrando-as sob os altares das igrejas.
Assim foi feito e somente em fins daquele mesmo século, quando a proibição foi abrandada, muitas dessas imagens proscritas foram desencavadas e reabilitadas. Por nada disto, porém, passou a Puríssima que abriga São Luiz do Paraitinga, onde sempre manteve-se descoberta no altar e cultuada sem reservas, por pobres e ricos, negros e brancos.

PÁTINA DA HISTÓRIA
    As águas mal haviam escoado e uma equipe técnica do Iphan já percorria a cidade dimensionando os estragos. Num segundo momento, esses especialistas vindos de Goiás passaram a cuidar do salvamento, limpeza e guarda dos bens, assim como escoramento e isolamento do patrimônio e sítios atingidos.
    Foi fundamental o apoio que prestaram aos moradores do centro histórico, assim como o encaminhamento de futuros projetos de restauro e reconstrução.
    Eles traziam à cidade a experiência obtida na reconstrução da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Pirenópolis, consumida por incêndio, assim como da recuperação do casario e outros bens coloniais de Goiás Velho, atingidos por devastadora enchente. 
    Pouca coisa também havia sobrado da velha capelinha luizense, mandada erguer pela beata Maria Antonia dos Prazeres no comêço dos anos 1800.
    Ao se priorizar o resgate de seus elementos construtivos e decorativos, ficou evidente que nenhum milagre poderia ter salvo a frágil construção da força das águas. A despeito de sua robustez aparente, as grossas paredes de taipa sustentavam-se sobre o solo nú, afincando-se por apenas 50 cm, sem um traço sequer de alicerce de pedra.
Capela em ruínas
    Com muito esforço, foi salvo um tanto do material de edificação de outrora, como partes da estrutura de ferro, peças de madeiramento e da decoração. Os elementos que não puderam ser recuperados foram refeitos, com base na documentação gráfica e fotográfica existentes.
    Para dar uma idéia aos visitantes sobre o processo original de construção, um trecho da antiga parede de taipa que resistiu ao desabamento, foi preservado em redoma de vidro exibida logo à entrada. À sua volta uma estrutura de concreto armado com 7,2 toneladas de aço e quatro metros de fundações sustentam as novas paredes, erguidas com 100 mil tijolos de barro cozido, do tipo colonial, feitos especialmente para a obra.
    “Optou-se por deixar à mostra o que restou da taipa, para se ter uma idéia de como a capela foi construída. Isso tem apenas uma função ornamental, pois não há peso em cima dela, uma vez que ela nada sustenta”, explicou o engenheiro Mauro Henriques de Arruda, responsável pela obra civil.
    Ao final, após consultar a população, ele providenciou a restituição das veneráveis cores azul e branca da fachada, características da primeira pintura que o templo ganhou ao ser erigido há 197 anos.
    Transcorrido pouco mais de um ano da enchente, em três de janeiro último deu-se início às obras. Os trabalhos contratados pelo Ministério da Cultura consumira R$ 1,16 milhão, provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas.
    Fora o empenho em reerguê-la sem ressalvas, outros fatores concorreram para que o templo ficasse pronto até o Dia de N.Sª das Mercês, dali a nove meses.
Ladeira das Mercês
    O principal deles foi a sorte de ter em mãos a planta original. Em 1959 o arquiteto Armando Rebolo havia feito um minucioso levantamento arquitetônico.
    "Essa listagem de plantas, cortes, estudos e o material recuperado, além de documentação variada, nos permitiram refazer com segurança os detalhes da construção que ruiu ", observou o arquiteto Antônio das Neves Gameiro, do escritório Iphan, de São Paulo, responsável pelo projeto. "Salvamos o que foi possível, menos a pátina do tempo - lamentou."
    O próprio Gameiro havia estado em São Luiz na década de 1970, primeiro como fotógrafo documental, e depois como arquiteto do órgão, realizando um levantamento de aproximadamente 110 imóveis.
      Mas talvez o mais determinante em tudo isso tenha sido a dedicação da brigada especial de operários residentes de São Luiz, que se ofereceu espontaneamente à missão de reerguer patrimônio tão querido a todos.
  Foram Biro-Biro, Tuia, Pokémon, Mindé, Baianinho, entre outros, um pouco mais de 20 conterrâneos ou agregados, que pelo arrebatamento que empenharam à obra, deram um significado maior à ressureição da capela, na maneira que a cidade passou a enxergar o seu futuro.
"As cidades são um sonho coletivo"
Jaime Lerner, arquiteto, ex-prefeito de Curitiba
Postado por: Enéas M.F. 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Da Natureza dos Homens

Magrite (Pomba)
Reflexões especiais que oferece a boa leitura
"Quando as pessoas pensam que estão pensando, estão apenas reorganizando seus preconceitos."

   William James, pai da filosofia do pragmatismo



"Ser rico não é pecado - ser pobre não é virtude. Virtude ou pecado é saber ou não ser rico ou pobre."

Hubert Rhoden, pensador brasileiro.


 "Só a arte é útil. Crenças, exércitos, impérios, atitudes - tudo isso passa. Só a arte fica, por isso só a arte vê-se, porque dura."

        Fenando Pessoa, poeta português. 


 "Mesmo sentado no mais alto trono do mundo, ainda assim continuarás sentado em cima do teu traseiro."

 Montaigne, escritor e filósofo francês.

Postado por: Enéas M.F.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O som da cidade na arte de Galvão Frade

Arte: Benito Campos
   Para muitos, a graça do Carnaval de São Luiz do Paraitinga está na singularidade de suas marchinhas e no colorido do chitão das fantasias.Para outros, ele encanta ao destacar lendas, mitos regionais e o rico folclore, além dos personagens do cotidiano. Na verdade, isso tudo combinado é festa que contagia pela sua espontaneidade e despojamento, resultando numa versão das mais originais desta folia brasileira.
   Mas nem sempre foi assim. Durante muito tempo a cidade viveu sem o brilho de sua grande festa profana, devido ao capricho de um padre, que por excesso de zêlo com a integridade de seu rebanho, inibiu tão ingênua diversão dos bailes do clube. Após sua morte, porém, foi o Carnaval o único a ressuscitar plenamente em 1981, desfrutado com a inocência perdida, desta vez nas ruas centenárias e ao abrigo do casario colonial.
    Para realçar ainda mais o viés de originalidade desta folia, a marchinha feita à maneira luizense foi sendo adotada como o rítmo oficial, desde o surgimento dos primeiros blocos. Estima-se que já foram feitas quase duas mil composições por artistas locais. O que se sabe com segurança, é que Galvão Frade, mestre da viola com inúmeros CD's, responde pela autoria da maior parte delas, que animam as principais agremiações.
   No ressurgimento da festa, nos anos 80, Galvão,na companhia dos mais talentosos músicos locais, veio a integrar o recém-formado Paranga, um gupo dedicado à renovação da MPB e grande responsável pela difusão da marchinha no Carnaval dessas paragens.
   Nas últimas três décadas, suas composições estiveram presentes no Festival das Marchinhas, realizado anualmente, tendo ele próprio organizado e produzido o evento em mais de 15 edições do concurso.  
   Enquanto as marchinhas iam se consolidando, a congada, o moçambique e o jongo, que embalam a tradição do vale do Paraíba, foram sendo igualmente introduzidos à festa, com uma levada carnavalesca peculiar. Mais uma vez Galvão, que há muito também se dedica a compor, preservar e difundir a moda de viola, contribuiu na incorporação desses novos rítmos entre os blocos que iam se multiplicando.
   Para comemorar 30 anos na passarela da cidade, Galvão Frade promoveu uma comemoração especial em fins de 2010, que se estendeu até o Carnaval seguinte. Formou-se o grupo Desemboca, com 19 integrantes, entre músicos, carnavalescos, amigos e familiares, que apresentou um pout pourri com 36 composições, as mais populares marchinhas e marchas ranchos de sua autoria.

  Ouça abaixo duas músicas de Galvão. A moda de viola "Oreia o Toro" e a marcha rancho "Lua Fulô".

Galvão Frade - Oreia o Toro:


Galvão Frade - Lua Fulô:


Postado por: Enéas M.F.

sábado, 21 de maio de 2011

Terra Paulista

Território chamado Paulistânia em 1790


- Final -

O primitivo isolamento da comunidade paulista fez enraizar
uma forte mentalidade regionalista

  Sorocaba, a capital do tropeirismo, situava-se em posição privilegiada como rota de saída e entroncamento estratégico. A noroeste estava Goiás e Mato Grosso, ao norte, Minas Gerais, passando por São Paulo e Vale do Paraíba, sendo também rumo ao Rio de Janeiro.

  O resultado dos três movimentos – bandeirantismo, monções e tropeirismo – foi a colonização de um território conhecido por algum tempo como Paulistânia, abrangendo parte expressiva do País (como mostra a ilustração acima).
Por toda essa área de influência foi surgindo o que se chama em terminologia econômica, camadas intermediárias da população. Esse novo estrato social estava voltado ao negócio de abastecimento dos núcleos populacionais florescentes no sertão.
  Os proventos gerados pela mineração resultou no acúmulo de capitais e a formação de um novo e ávido mercado consumidor, insuflando o comércio. Que por sua vez,mais tarde possibilitou a expansão agrícola, como o florescimento do ciclo cafeeiro, entre inúmeras outras atividades econômicas, responsáveis, por consequência, pela geração dos recursos que vieram a financiar a industrialização paulista.
  Confirmou-se a máxima pela qual, para acasalar-se à terra, deitar raízes e florescer numa estável abundância, seria necessário anteriormente caminhar. Ou seja, "buscar remédio" sertão a fora.

Fonte: Essa série é uma compilação da coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
                                        
O Brasil que falava nheengatu 

  Nota do Redator - A autêntica língua brasileira é o nheengatu ("fala boa"), que foi dominante no País por um largo tempo. No Brasil Colônia, era idioma corrente de brasileiros de todas as classes sociais, em uma área do País que ia de Santa Catarina ao Pará. O português só era falado pelos estrangeiros colonizadores, vindos da metrópole distante.

  O Nheengatu, um idioma puramente oral, é uma derivação da linguagem falada pelos índios tupi, mesclada com o português arcaico. Ele foi criado no século XVI pelos missionários jesuítas para atender as necessidades dos silvícolas, que tinham dificuldade em pronunciar muitas palavras portuguesas.
  Nossos antepassados brasileiros viviam muito bem com o nheengatu, mas a burocracia portuguesa que vinha ao País, não mais conseguia se comunicar com todos seus subordinados na língua materna. Sem dizer que aquele idioma interétnico atrapalhava os interesses colonizantes. Mais do isso, era preciso fazer algo para enfraquecer os tentáculos políticos dos jesuítas. Nos idos de 1758, por fim, seu uso foi proibido pela Coroa.
Indiazinha Karajá
Foto Giselle Varga
  Mas o veto não significou sua extinção. Quando aquela fala original brasileira foi banida das salas de aula, o povo transportou muito de seu vocabulário para o dialeto caipira (do tupi Ka’apir ou Kaa-pira, que significa “cortador de mato”, como eram chamados os colonizadores pelos índios) a nova forma de comunicação que ganhava força em parte da Nação.
 Sua lembrança mais viva está ali até hoje quando ouvimos alguém falar muié, poorta, zóio, tarrde, cuié, quintá, etc.
  
 Já vai longe o séc. XVIII, quando 2/3 dos paulistas falavam o nheengatu e o restante o português, sendo a maioria bilíngue.O tempo acabou por consolidar o português, mas o dialeto puro resiste em alguns rincões. Ele ainda é falado em certos pontos da fronteira com o Paraguai. Em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, a 860 quilômetros de Manaus, um ato do Executivo de 2002 tornou o nheengatu língua co-oficial do município, que é ensinado nas escolas.
  
 Como herança herdamos um falar todo especial, mais adocicado e de sonoridade agradável. No dia a dia do nosso português popular do Brasil, ainda estão vivas entre nós muitas palavras originais daquele longinquo idioma brasílico, como nhem-nhem-nhem, jururú, xará, bagunça, mingau e pindaíba, além de tantas outras.
 Postado por: Enéas M.F.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Da Natureza dos Homens


Reflexões especiais que oferece a boa leitura

  "O que foi feito no mundo é o que sempre foi feito, sempre será feito e está sendo feito agora em todos os lugares."

 Marco Aurélio, imperador romano e filósofo estóico.


"Se Deus não existe e a alma é mortal, então tudo é permitido." 

   Fiódor Dostoievski, escritor russo, em Irmãos Karamazov. 


A presença, para ser sentida, tem que ter alguma coisa de ausência."   

 Padre Vieira, escritor e pensador.


 "Of course you can't unfry an egg, but there is no law against thinking about it." ("Lógico que você não pode desfritar um ovo, mas não tem nenhuma lei contra pensar nisto") 

    Don Harold,  comediante norte-americano

Postado por: Enéas M.F.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Terra Paulista

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret
- Quinta parte -

       A pé, em canoa ou no lombo da mula, cidades que caminham

   A saga das monções terminou na primeira metade dos anos 1700, com a abertura do caminho terrestre para a província de Guaiazes (Goiás), mais adequado e ameno. Sem dizer que ia-se no lombo de burros, que podiam ser vendidos ao final da viagem. Começava o ciclo do tropeirismo.

    A mula, animal híbrido, resultado do cruzamento do jumento com égua, povoava em abundância as campinas do Rio Grande do Sul. Aos poucos foi se apresentando como a melhor resposta às necessidades de movimentação de carga.

   Trazê-la dos pampas era, por si só, mais um desafio. Tratava-se de um percurso em torno de 1.500 km, na maior parte agradável, mas com alguns trechos de mata fechada, atoleiros e despenhadeiros, além dos ataques de saqueadores, índios e animais selvagens.

   Talvez mais do qualquer outro movimento, o tropeirismo era uma fonte segura e sistemática de negócios ao longo de seu traçado. E assim brotaram centenas de povoados fixos, tendo muitos deles virado cidades.

   Era um ótimo negócio, sobretudo aos donos de tropas,que se transformaram em ricos capitalistas, agraciados depois com títulos do Império. Como os barões de Antonina, de Iguape, dos Campos Gerais, entre outros.

   O enriquecimento era proporcional à exploração dos subalternos. Enquanto os donos das tropas ganhavam muito, os condutores, os camaradas, os cozinheiros, que formavam a massa dos peões, percebiam uma remuneração irrisória diante do trabalho e riscos envolvidos na empreitada.

   Para se ter uma idéia dos valores, uma cabeça de mula que custava entre um e dois mil réis na origem, era revendida por até 27 mil no fim da jornada, em Sorocaba. Deste total, três mil eram gastos com impostos, despesas menores e salários.



Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
 

(N. do R) - Pelos dividendos da indústria canavieira, o Nordeste foi o primeiro grande pólo econômico do Brasil, no alvorecer da colonização. Pernambuco e Bahia reuniam o maior número de engenhos, concentrados nas mãos de poucas famílias, que formavam a aristocracia canavieira, patriarcal por excelência. De meados do século XVI, estendendo-se por quase 200 anos, o País liderou a produção açucareira mundial, garantido-se, em parte, pelo monopólio português na Europa. No Velho Mundo, então,o açúcar deixava de ser uma especiaria de fins medicinais, para substituir o mel como adoçante, consumido em larga escala.

   Essa hegemonia começou a ruir a partir da metade do séc. XVII, com a entrada em concorrência dos produtos holandês e espanhol, vindos das Antilhas. Assim como pela difusão do açúcar de beterraba nas mesas européias, feito localmente. 

   Enquanto isto no Nordeste ocorria o esgotamento das terras férteis da Zona da Mata pela monocultura, elevando os custos operacionais dos engenhos. As florestas por sua vez foram queimadas nas fornalhas de cozimento da cana, esgotando a grande fonte energética conhecida. A atividade passou também a exigir investimentos ainda mais vultosos, assim como mão de obra escrava crescente. Isto e outros problemas estruturais precipitaram a decadência daquela era. 

  A riqueza começara a migrar e florescer no Centro-Sul, com a descoberta de jazidas minerais preciosas na região. Mais tarde, na segunda metade do séc. XIX foi a vez de São Paulo despontar na liderança econômica, com o surgimento de atividades perenes no campo e na indústria, onde foi investido o capital acumulado por séculos "buscando remédio" fora de casa.

Postado por: Enéas M.F.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Poética do Vale (III)‏

Litoral de Ubatuba em tempos idos

Na Rede

A rede vai, a rede vem...
E chora
e canta...

Cada gancho tem um ai
ai, ai, ai, ai
Pedro diz:
"De hora em hora,
Deus melhora."

 A rede vai, a rede vem...
Quem dera que fosse dizer uma fada:
"Veio morar no sítio Primavera,
há de chover farinha peneirada."  
 
Afonso Schimidt, Cubatão (1890-1964). Intelectual dinâmico, escritor e poeta parnasiano, participou do grupo de Monteiro Lobato. Foi também colaborador de diversas publicações regionais. 
 
Postado por: Enéas M.F.