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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Walden, de Thoreau - Terceira Parte

Interior da cabana de Thoreau
PLENITUDE

"É manhã quando eu acordo e há em mim um permanente amanhecer"

VIVENDO DE MANEIRA PRÓPRIA

"Não gostaria que alguém adotasse meu modo de vida por motivo nenhum.
Gostaria,sim, que cada um se empenhasse em descobrir seu próprio caminho, em vez do trilhado por seu pai, sua mãe ou seu vizinho.
Que o jovem construa, plante ou viaje, contanto que não seja impedido de fazer aquilo, que, segundo ele, gostaria de fazer.
Podemos não chegar a um porto dentro de um determinado prazo, mas devemos nos conservar na rota certa."

VIVENDO COM SIMPLICIDADE

"Nossa vida é estilhaçada pelo detalhe.
Um sujeito honesto dificilmente precisa contar além de seus dez dedos.
Ocupai-vos de dois ou três afazeres, não de cem ou mil.
Porque teríamos de viver com tanta pressa, esbanjando vida ? Decidimos morrer de fome antes de sentirmos fome.
Simplicidade, simplicidade, simplicidade."

VIVENDO COM PARCIMÔNIA

"Descobri que trabalhando seis semanas por ano, poderia cobrir todas as despesas necessárias à minha sobrevivência.
A automanutenção neste mundo é um passatempo, se a pessoa viver de modo simples e sábio."

VIVENDO LIVRE

"Enquanto for possível, vivei livres e sem compromisso."

SOBRE FILANTROPIA

"A caridade, como outras ocupações, exige vocação. Quanto a prática do bem, eis uma profissão muito concorrida.
Não há cheiro pior do que o que emana da bondade corrompida.
Não vos limitei a ser provedores de pobres, mas tentai tornar-vos as próprias riquezas do mundo.
Se lhes dai dinheiro (aos pobres), dai-vos juntamente, em vez de apenas entregá-los em suas mãos."

SOBRE OS CORREIOS

"Em toda minha vida, não recebi uma ou duas cartas que valessem a tarifa postal."

SOBRE JORNAIS

"Também estou certo que nunca li nos jornais nenhuma notícia notável. Entretanto não são poucos os ávidos por bisbilhotice.
Novidades ! muito mais importantes saber daquilo que nunca fica velho."




domingo, 24 de outubro de 2010

Se essa rua fosse minha


"Vai aqui um apelo ao bom engenho dos homens públicos dos dias de hoje, principalmente a quem cabe cognominar, nomenclaturar, denominar, o diabo que seja ou vernáculo que encaixe. Tudo “ por um freio à torpe adulação nacional, fazendo votar uma lei para voltarem os nomes antigos, lusos,Tupis ou Tapuias, aos lugares deslustrados pelos nomes ilustres de celebridades passageiras. Era regra geral que os povos somente davam nomes de acordo com os acidentes de terrenos os fatos históricos, as lendas e a índole de sua língua ”.Os nomes de indivíduos dados a locais, ruas, cidades, etc, eram raríssimos no espaço e no tempo. Tal colocação, sem o doentio sentimentalismo de conservadores natos, visa tirar da lembrança aos homens de hoje e que cujo engenho sobejavam aos homens de outrora de que dar nome a uma rua era um fator da cultura e que se hoje não tomado o devido cuidado e esmero, incorre no incompreendido desprazer da frase: - Putz. A rua sumiu ! Mas se alguns acharem que isto é deselegante e execrável eu repito o final da frase do mestre Gustavo Barroso acima transcrita ... celebridades passageiras... Se amanhã, as gerações futuras se vestirem de algum exterminador como o cinema hodierno oferece, e resolver mudar todos os nomes como o vírus do computador apaga a memória deste, todo direito terá estas gerações de se adequarem aos personagens de seu universo, de seu mundo, de sua época os nomes que quiserem dar as suas ruas enquadrando-as nos seus tempos e a memória curta da história, não terá nada para contar, se assim continuarmos fomentando tais iniciativas irreflexivas e incultas. Muito mais sábio era o homem do passado, pois tinham o tino e o engenho de, em cima do aspecto físico e geográfico, nomenclaturar as ruas, logradouros e cidades. São Luiz do Paraitinga cujo nome é uma homenagem ao Saint Louis de Tolouse, o franciscano da Ordem devotada a pobreza extrema e o complemento o Paraitinga, linguagem que em Tupi quer dizer Pará = mar, rio caudaloso, e tinga = branco, traduzindo a expressão por completa pode se dizer: S. Luiz do Rio das Águas Claras. Pegando a chave com São Pedro de Catuçaba (Distrito) , Catussaba poderíamos dizer que em Tupi o complemento nos oferece chamar o nosso distrito de São Pedro da" Boa Gente e de Clima Saudável". Tudo antigamente tinha um sentido e um porquê, pois vejamos alguns nomes de ruas do passado que embutia o coletivo e tinha o bom senso de nunca dar chance a individualidade:


Rua da Quitanda = onde se concentrava os quitandeiros da cidade daquela época.


onde as tropas vindo com o ouro das Minas Gerais passavam a caminho do Sertão indo para o Porto de Ubatuba ou Parati.




onde se tinha uma bela visão panorâmica e privilegiada da cidade e hoje rua Oswaldo Cruz.



 
rua de grande importância onde se concentravam os que detinham a o poder e a riqueza da época.



como o próprio nome diz onde quem se instalava, bem ficava pela excelência de seu aspecto físico e panorâmico.
Portanto se justificava e havia complementação, harmonia e zelo, havia inteligência observação e integração com o social e a natureza, hoje como diz Manoel Bandeira em seu poema de exaltação a Recife ...


... “ Rua da União ...
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância.
Rua do Sol (tenho medo que hoje se chame Rua Dr. Fulano de Tal )..."

Contei com o apoio entres aspas no inicio deste texto e a inspiração na complementação do mesmo , do mestre Gustavo Barroso para reescrever tal artigo dentro do universo luizense...

Benito Campos

Música - composição de domínio público
arranjos: Alida Cuoco
Vozes: Líria Cravo, Sophie Kolk, Beto Olliveira

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Walden, de Thoreau - Segunda Parte

O lago Walden ao amanhecer
SOBRE OS INVENTOS

"Nem sempre há um avanço positivo com o que chamamos de progressos de hoje em dia. Nossos inventos costumam ser belos brinquedos que distraem atenção das coisas sérias. Não passam de meios aperfeiçoados para se atingir um fim que não se aperfeiçoou, um fim que já se encontrava lá."


SOBRE PIRÂMIDES E MONUMENTOS EM GERAL

"Em vez de se autocelebrarem por meio da arquitetura, as nações não deveriam fazê-lo pelo poder de seu pensamento abstrato ? O Bhaghavad Gita é muito mais admirável do que todas as ruínas do Oriente. Torres e templos são lixos de príncipes. A mente simples e livre não moureja sob ordem de nenhum príncipe.

"Da minha parte, gostaria de saber quem nessa época deixou de construí-los, quem estava acima de tais ninharias.

"Que tal se esforços semelhantes fossem despendidos (pelas nações) no sentido de aperfeiçoar e polir sua conduta ?

"O amor à arte dos construtores ocorre em todo o mundo, trate-se de um templo egípcio ou de um banco norte-americano."


ALIMENTAÇÃO, SOB A PERSPECTIVA DO RETIRO

"Aprendi com a experíencia de dois anos, que custaria inacreditavelmente pouco trabalho obter-se a alimentação necessária. E que o homem pode adotar uma dieta simples e assim conservar-se saudável e forte.

"Consegui jantar satisfatoriamente com um simples prato de beldroega (portulaca oleracea), que apanhei no meu roçado de milho, cozinhei e temperei com sal. Atribuo ao latim o apetitoso do nome do trivial."

"Contudo, os homens chegaram a tal ponto que amiúde morrem de fome, não por falta do necessário, mas por falta do supérfluo."


SEM DEPENDER DO FERMENTO E DA FARINHA DE TRIGO

"Estudei a antiga e indispensável arte de fazer o pão... Por acidente fiquei sem fermento..." Não acho que seja um ingrediente essencial. É mais simples e respeitável dispensá-lo.

"Qualquer habitante da Nova Inglaterra pode facilmente colher os ingredientes do pão sem precisar depender de mercados distantes e instáveis."


UM PONTO DE VISTA

"Desperdiça-se a melhor época da vida sacrificando-se para ganhar dinheiro, com vista a usufruir uma duvidosa liberdade na velhice."

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O despertar da consciência‏

Nos idos de 1845, quando os Estados Unidos viviam os anos dourados que antecederam a sangrenta guerra da Secessão (1861-65), uma experiência única tomava curso em silêncio nas entranhas do país. O escritor e filósofo Henry David Thoreau mudava-se para uma cabana que construira com as próprias mãos, ao custo de US$ 28,13 no bosque profundo de Walden Pound, nas cercanias de sua Concord natal, no Massachusetts.



Durante dois anos, dois meses e dois dias, num período em que, segundo suas próprias palavras, "procurei exaurir todas as vantagens da solidão, sendo rico querendo pouco", viveu em completa imersão de consciencia, praticando também a agricultura de subsistência.

Das reflexões que dali emergiram, ele concluiu que o homem não está acima da natureza, mas é parte dela. Nesta cosmovisão, antecipou a necessidade de se proteger o ecossistema para assegurar a sobrevivência da Humanidade.



Além de analisar as relações entre o meio ambiente e os seres que nele vivem, alinhavou uma sensível análise filosófica da condição humana. Concluiu da frustração que sufoca o que de melhor existe no Homem, devido ao tipo alienado e mecânico de vida que se submete. E da qual sobrevém os piores defeitos do materialismo.



- Fui para a floresta porque desejava ter total controle sobre minha existência e escolhi me defrontar com os fatos essenciais da vida e ver se aprendia o que eles tinham para me ensinar, de modo evitar ser surpreendido na hora da morte, por não ter vivido. Não queria viver o que não era a vida. Viver é tão maravilhoso, e eu nem pretendia praticar a resignação - confessou.



Deste retiro existencial e suas abstrações, sem histeria ele escreveu "Walden or A Life in the Wood", um livro que se revelou além de sua época e dos mais surpreendentes jamais publicado, lançado em 1854.



Foi um dos primeiros a apontar o alto preço que o progresso a qualquer custo viria a cobrar, o deslumbramento do homem pelo supérfluo, os duvidosos valores sociais e as mazelas da ganância humana.



Este libelo inquietante contra o individualismo predatório e a desumanização das relações pessoais, que viriam a ser os traços mais marcantes do american way of life, sobretudo, transformou-se, um século depois, na base espiritual dos movimentos hippie, ecológico, anticonsumista, entre tantas outras tendências.



Dentro de um estrutura literária originalíssima, a obra aborda aspectos econômicos, antropológicos e filosóficos, com uma espontaneidade que vai do pedante ao introspectivo, no curto espaço de poucos parágrafos. O mesmo se dá ao descrever a exuberância das quatro estações, esmiuçadas, ora de forma científica, ora em profunda comunhão espiritual. Por exemplo, após observar a vida que renasce do lodo e o sobrevoo do gavião do charco na primeira manhã da primavera, questiona: "Num momento desses, o que significam histórias, cronologias, tradições e todas as revelações por escrito ?"



Da legião de pensadores que veio a influenciar, destacam-se o russo Leon Tolstói e Martim Luther King, Mahatma Ghandi, em uma legião que nunca parou de crescer.



Ao longo de sua curta vida de 45 anos, abreviada por tuberculose fatal, em 1862, Thoreau foi ele próprio um personagem autêntico. Formado em Literatura e Línguas por Harvard, era homem de muitos outros talentos. Por exemplo, foi um pioneiro no desenvolvimento do grafite para uso na escrita, cujo processo de produção ele aperfeiçou, em benefício da fábrica de lápis de sua família.



Não enxergava serventia nas notícias dos jornais ("Poluem com banalidades a nossa mente, templo de reflexões"). Místico e solteirão empedernido, era defensor do trabalho com prazer, mas indisposto com as boas maneiras e a caridade cristã.



Homem de aguçada intuição e rara integridade pessoal, Thoreau protagonizou também outra manifestação histórica, um ano após ter se retirado da civilização e embrenhado na floresta.



Por discordar do uso dos recursos públicos para custear uma guerra com o México, além de manter uma política escravista, David Thoreau deixou de pagar impostos federais, atrasados desde seu recolhimento ao bosque. Por isto, foi preso pelas autoridades locais.



Das lições tiradas deste breve episódio - foi solto no dia seguinte, depois que sua tia Marie, coberta de vergonha, pagou os tributos - se valeu para escrever o ensaio "A Desobediência Civil", de 1849, abordando o poder na sociedade democrática e o relacionamento do indivíduo com o governo, na sua defesa contra lei injustas.



Muitas décadas depois, Ghandi baseou-se na filosofia deste trabalho para lançar as sementes da luta pela independência da Índia, em seu movimento de resistência pacífica contra a Inglaterra. Era a desobediência civil na prática, contra ordem vigente.



- Deve o cidadão em qualquer momento, e até mesmo no menor grau, decidir contra a sua consciência e a favor da lei ? Então por que cada homem possui uma consciência ? Creio que deveríamos ser primeiro homens e depois súditos - ponderou Thoreau.



Na leitura que fazemos hoje desta longínqua obra transcendental, é natural que algumas das palavras de Thoreau pareçam excessivamente românticas, outras vezes arrogantes ou mesmo quixotescas. Mas pela controvérsia que ainda continuam despertando, mostram que continuam atuais, assim como a humanidade ainda permanece por demais inconsequente e fútil.



O trabalho que iremos publicar em capítulos, apresenta destaques selecionados da edição brasileira do livro "Walden ou A Vida nos Bosques. Inclui A Desobediência Civil" (Editora Ground).O objetivo, como muito do livro, é provocar a curiosidade pela obra e refletir seu conteúdo. A seguir, o primeiro capítulo.

Cabana onde Throreau morou em Walden


DO RETIRO NA FLORESTA
   "Ninguém pode ser um observador imparcial e sábio da raça humana, a não ser da posição privilegiada que chamaríamos de pobreza voluntária."
 A QUESTÃO EXISTENCIAL
  "Os homens, em sua maioria, levam vida de sereno desespero. Vão das cidades, sem perspectivas, para o campo, sem futuro...
  Uma desesperança estereotipada, mas inconsciente, esconde-se sob os chamados jogos e diversões da humanidade...
  Somos completa e sinceramente forçados a viver nossa vida negando a possibilidade de modificação."
   FALSOS VALORES
   "A maioria dos luxos e dos chamados confortos da vida, não só são dispensáveis como constituem obstáculos à elevação da humanidade...
   Também tenho em mente a classe dos que sendo poderosos na aparência, empobreceram mais do que todos, acumulando trastes que não sabem como usar, nem como jogar fora...
   Quando já se conquistou o necessário à vida, surge uma alternativa que não a de obter supérfluos, ou seja a de aventurar-se na vida...
   Casas com quartos vazios para homens vazios."
   DE FILÓSOFOS E FILOSOFIA
   "Os antigos filósofos eram uma classe que se notabilizava pela extrema pobreza de seus bens exteriores, em contraste com a riqueza interior...
   Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia, porque um dia foi admirável vivê-la...
   Ser filósofo não é apenas ter pensamentos sutis e fundar uma escola, mas amar a filosofia a ponto de viver, segundo seus ditames, uma vida de simplicidade, magnanimidade e independência...
   Ser filósofo também significa solucionar alguns problemas da vida, não só na teoria como na prática."
   QUESTIONAMENTOS
   "Por quê será que os homens degeneram sempre ? O que leva suas famílias a se acabarem ? Qual é a natureza do luxo que ergue e destrói nações ? Estamos certos que essa natureza (Walden) não existe em nossas vidas ?...
   Uma geração abandona as conquistas da outra, como se fossem barcos encalhados."
    SOBRE CAMISAS
   "As camisas são nossas verdadeiras cascas, que não podem ser removidas sem destruir o homem...
   Acredito que todas as raças, em alguma temporada, usa camisas...
   É conveniente que a pessoa se vista com tamanha simplicidade que, se a cidade for sitiada pelo inimigo, possa ir-se embora na maior simplicidade."

Postado por: Enéas M.F.

sábado, 9 de outubro de 2010

Lech lechá (*)


   Nova passarela da cidade                                    Foto: Arnaldo Bonsch
O que será de mim que me trouxeste,
tendo a vida a passar por ti,
destino que espalha 
e noutra ponta ajunta.

Por cima um povo duro de dobrar,
em vão, as ilusões
e o Paraitinga sem juízo,
desde quando virou cidade.

Vá para ti,
além de minha natureza,
dimensão sem margem,
na inconjecturável
jornada da alma.

   (*) - Lech lechá significa, em hebraico, "Vai com você ou Vá para ti".Fala de uma passagem da Torá (livro sagrado judaico, formado pelos cinco primeiros livros da Bíblia cristã), em que o Altíssimo manda Abraão deixar sua casa e viajar à terra que Ele lhe mostraria. É uma metáfora interpretada como a jornada do Homem para o interior de si mesmo, sacrificando o passado para merecer o futuro, criando algo novo.
   Só uma viagem longa e solitária, em que se leva apenas as crenças, o modo de vida e a fé, seria capaz de definir quem de fato somos e o nosso verdadeiro destino, enfim.
   Os indianos têm um conceito muito revelador, representado na palavra dharma, que pode ser traduzida como dever ou missão de vida, que nos é estabelecida pela ordem universal, a que tudo rege. Na antiga sabedoria daqueles mestres,a vida tem um propósito que não enxergamos ou sentimos, por estarmos turvados com as preocupações mundanas do cotidiano.
   Aquela filosofia sinaliza que harmonizar com o dharma, vivendo a prática das virtudes com equilíbrio interno, é o grande desafio existencial. Nesta viagem de autotranscendência, indo além do tempo e dos cinco sentidos conhecidos, ninguém poderia nos conduzir. Nenhum esforço intelectual, orientação de gurus ou instrutores, assim como o apoio de religiões, teria o poder de lançar luz neste caminho, que só cabe a cada um de nós procurar, nas dobras de nossa alma.

Postado por: Enéas M.F.