Menu

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Muito além de uma porta‏

Paraitinganas Fantásticas - II
Porta de uma casa na via de acesso ao bairro da Várzea dos Passarinhos.
Presa no batente

há uma porta em dois

a imaginar, a imaginar

o que vem depois


Alexandre O'Neill
(Lisboa, 19/12/1924-21/08/1986, foi um importante poeta português do movimento surrealista, que, pelo versinho acima até parece ter visitado São Luiz.)

Postado por: Enéas M.F.










sábado, 18 de dezembro de 2010

Walden, de Thoreau - Nona Parte - Final


A 30 minutos de Boston, Thoreau repousa em sua Concord natal, no cemitério de Sleepy Hollow,onde os carvalhos inundam de amarelo a paisagem de outono.


VIDA !

"Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontrar-me apenas com os fatos essenciais da vida e ver se podia aprender o que tinha de ensinar, em vez de descobrir na hora da morte que não tinha vivido.
Não desejava viver o que não era vida, a vida sendo tão maravilhosa, nem desejar praticar a resignação, a menos que fosse de toda necessária.
Queria viver em profundidade e sugar toda a medula da vida. Viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de pôr em debandada tudo o que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso; reduzindo-a a seus elementos mais primários e, se esta se revelasse mesquinha, adentrar-me então em sua total e genuína mesquinhez e proclamá-la ao mundo; e se fosse sublime, sabê-la por experiência."


CONTEMPLAÇÃO

"No primeiro verão não li nenhum livro; cuidei dos feijões. E muitas vezes fiz até coisas melhores. Houve ocasiões em que eu não era capaz de sacrificar a beleza do momento presente a qualquer trabalho intelectual ou manual.
Gosto de uma larga margem para minha vida. Às vezes, numa manhã de verão, após o banho de praxe, do amanhecer ao entardecer sentava-me na ensolarada soleira, absorto num devaneio, em meio aos pinheiros, nogueiras e sumagres, em completa solidão e serenidade.
Crescia eu nessas temporadas que nem o milho durante a noite, e elas eram melhores que qualquer outro trabalho feito com as mãos. Não representavam tempo subtraído à minha vida.
Percebia o que os orientais chamam de contemplação, bem como renúncia aos trabalhos. O dia avançava como a iluminar algum trabalho meu; era manhã, e vejam, já é noite, e nada de memorável acontecera.
Sem dúvida, isso para meus concidadãos era pura ociosidade; mas se eu fosse julgado pelo padrão dos pássaros e das flores não seria condenado. É bem verdade que um homem deve encontrar razões em si mesmo.
O dia natural é muito calmo e dificilmente reprovará a indolência do homem."


DESOBEDIÊNCIA CIVIL

"Se a natureza de uma lei exige que você seja um agente da injustiça com o próximo, então eu digo: quebre a lei !"


FIM

"E assim se desenrolaram as estações a caminho do verão, como alguém que passeasse entre ervas cada vez mais altas.
Dessa maneira completou-se meu primeiro ano de vida nos bosques; o segundo foi semelhante. Por fim deixei Walden, a 6 de setembro de 1847."


No despojamento de seu túmulo, em que apenas está grafado seu nome, os admiradores de Thoreau deixam como lembranças poemas ou ramos, flores e seixos colhidos na natureza local.

Postado por Enéas M.F.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

São Luiz agora é um bem nacional

IMAGEM RARA - Esta é a cidade fotografada em reportagem da revista Boa Estrela, da Mercedes Benz, publicada em 1978. A chapa mostra São Luiz despojada de antenas parabólicas, inexistentes na época, e dá uma boa idéia da paisagem agora tombada. Clique na foto para ampliá-la.
  Desde o último dia 10, o Brasil conta com um novo patrimônio cultural. Naquela data, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) decretou o tombamento do conjunto urbano de São Luiz do Paraitinga, envolvendo o centro histórico da cidade e a paisagem da vizinhança.
 
    A medida irá atingir cerca de 450 imóveis e a preservação do território que se enxerga em volta do município, a região conhecida como os mares de morrostotalizando uma área de 6,5 milhões de m².
 
    O dossiê de tombamento de São Luiz do Paraitinga já havia sido finalizado pelo Iphan em 2009, mas precisou ser atualizado após a enchente do início do ano.
  
   Está prevista também a compra de um imóvel na praça Oswaldo Cruz, onde o IPHAN pretende instalar a Casa do Patrimônio, que será um centro de referência em preservação histórica de todo o Vale do Paraíba. Lá devem ser desenvolvidas atividades educativas e culturais, como oficinas, seminários, palestras, conversas, orientação técnica, exposições e eventos em geral. 

O QUE SIGNIFICA TUDO ISTO


   O patrimônio cultural é o conjunto de bens que contam a história de uma geração através de sua arquitetura, vestes, acessórios, mobílias, utensílios, armas, ferramentas, meios de transportes, obras de arte, documentos. Entende-se como um bem material, natural ou imóvel que possua significado e importância artística, cultural, religiosa, documental ou estética para a sociedade. Estes patrimônios foram construídos ou produzidos pelas sociedades passadas, por isso representam uma importante fonte de pesquisa e preservação.
  
   Esses bens materiais e imateriais englobam também obras de arte ou artesanato,  criações como a literatura e a música; as expressões e os modos de viver, como a linguagem e os costumes; os locais que tenham expressivo valor para a história, a arqueologia, a paleontologia e a ciência em geral, assim como as paisagens e as áreas de proteção ecológica da fauna e da flora.
   
    Seu tombamento significa a preservação e o restauro dos imóveis que, apesar de continuar pertencendo a seus proprietários, serão cuidados pelo Estado brasileiro, para evitar sua destruição ou descaracterização. Neles serão permitidas que se façam apenas obras de restauração e conservação.  O patrimônio histórico é importante para a compreensão da identidade histórica de uma determinada sociedade.

Postado Por: Enéas M.F.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Walden, de Thoreau - Oitava Parte

Réplica do mobiliário dos aposentos de Thoreau em Walden.

 LEIS UNIVERSAIS

   "Se uma pessoa avançar confiantemente na direção de seus sonhos, e se esforçar por viver a vida que imaginou, há de se encontrar com um sucesso...
   À medida que simplificar sua vida, as lei do universo hão de lhe parecer menos complexas, e a solidão não será mais solidão, nem a pobreza será pobreza, nem a fraqueza, fraqueza."

   ESTUPIDEZ  

  "Por que descer sempre ao nível de nossas percepções mais estúpidas e louvá-las como senso comum ?...
   Muitas vezes somos levados a classificar as pessoas superdotadas com as retardadas, porque apreciamos apenas um terço da inteligência dela.   
   Alguns,se levantassem bastante cedo algum dia, criticariam até o vermelho da aurora."

   OUÇA SUA MÚSICA

   "Deve um homem enforcar-se porque pertence à raça dos pigmeus, em vez de ser o maior pigmeu que puder. Que cada um se ocupe de seus próprios afazeres e se esforce por ser como foi feito.
   Por que deveríamos correr deseperadamente atrás do sucesso, em empreendimentos desesperados. Se um homem não acerta o passo com seus companheiros é porque talvez ouça um tambor diferente. Deixai-o marchar conforme a música que ouve, ainda que lenta e distante.
   Se ainda não chegou a hora para o que fomos criados, que realidade pode substituí-la."

   CUMPRINDO O DESTINO

   "Por mais medíocre que seja a vossa vida, enfrentai e vivei-a; não a eviteis nem a xingueis. Não é tão aborrecida como vós sois. Quem busca defeitos em tudo, encontrará defeitos até no paraíso.
   Não vos deis ao trabalho de conseguir coisas novas, seja, roupas ou amigos. Reformais as roupas usadas, retornai aos velhos amigos.
   As coisas não mudam, nós é que mudamos. Vendei vossas roupas e conservai vossos pensamentos.. Deus proverá para que não vos falte companhia."

   HUMILDADE REVELADORA

   "Não procureis tão ansiosamente desenvolver-vos, nem sujeitar-vos ao jogo de muitas influências; isso é pura dissipação.
   A humildade, como a obscuridade, revela luzes celestiais.
   A vida é mais deliciosa no que é mais intima.
   A riqueza supérflua pode comprar apenas supérfluos."

   HERMETISMO

   "Moro no ângulo de uma parede de chumbo, em cuja composição derramou-se um pouco do bronze dos sinos."

   O QUE VIRÁ

   "Só amanhece o dia para o qual estamos acordados.
   Mais dia está por raiar. O sol não passa de uma estrela matutina."

Postado por: Enéas M.F.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Walden, de Thoreau - Sétima Parte

"O meu amigo é aquele que me aceita como eu sou"

                                        A OPÇÃO VIRTUOSA

  "Toda nossa vida é surpreendentemente moral. Não há um só instante de trégua entre a virtude e o vício.
   A bondade é o único investimento que nunca falha.
   Na música da harpa (música das esferas)que vibra em volta do mundo, é a insistência nisso que nos comove."

                                        A MORAL VIRTUOSA

  "Ainda que a juventude cresça, afinal, indiferente, as leis do universo não são indiferentes e estão sempre do lado mais sensível.
   Não podemos tocar num cordão ou mover um ponto, sem que essa moral fascinante nos transpasse."

                                         A DIFÍCIL VIRTUDE

  "Quem sabe que tipo de vida resultaria se atingíssemos a pureza.
   A energia geradora que se dissipa e nos torna impuros quando somos devassos, nos revigora e inspira se adotarmos a continência.
   Como saberá um homem se ele é casto ? Não o saberá. Temos ouvido falar dessa virtude, mas não sabemos do que se trata.
   A natureza humana é difícil de ser dominada, mas deve ser dominada."

                                         UM PENSAMENTO

  "Temos um animal em nós.É possivel afastarmo-nos dele, mas nunca alterar-lhe a natureza." 

Postado por: Enéas M.F.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nossa Senhora das Mercês restaurada em sua glória

A imagem de Nossa Senhora das Mercês, confeccionada em terracota, foi encontrada sob os escombros de sua capela, por uma equipe de buscas comandada por José Carlos Imparato, professor de odontologia da USP e arqueólogo nas horas vagas, morador nas vizinhanças. No dia quatro de janeiro, quando as águas da enchente ocorrida no dia 1º começaram a baixar, ela foi localizada sob uma grossa camada de barro e madeira. Por sorte, como seu rosto ficou encaixado em uma pequena lacuna de madeira, ele e parte do manto e das mãos, não sofreram tantas avarias. O Iphan cuidou do restauro de NS das Mercês, assim como das imagens de São Luiz de Tolosa (patrono da cidade), NS das Dores, Cristo Crucificado, além de outros 12 santos e anjos resgatados das ruínas da Igreja Matriz e da Capela das Mercês. O trabalho delicado de recuperação, totalmente manual, durou cerca de dez meses. Inicialmente foi feita uma higienização, pela limpeza com pincéis. Em seguida a fixação da policromia, para evitar o descolorimento da pintura, assim como a limpeza fina. Na etapa seguinte cuidou-se da colagem dos pedaços quebrados e modelagem das partes perdidas. A mais danificada foi N.S. Mercês, quebrada em 92 peças. Depois foi feito o acabamento, nivelando-se cada peça com massa polimérica e lixando. Na última etapa, providenciou-se a reintegração cromática, a pintura em suas características originais, executada após pesquisa de cores e tons. A nova pintura é feita em um tom levemente mais claro, para poder ser diferenciada nesta versão. Finalmente, aplicou-se o verniz, dando o acabamento final.

                            Uma santa para todas as ocasiões
A Nossa Senhora das Mercês venerada em São Luíz do Paraitinga, na capela que leva seu nome, é uma imagem rara e peculiar da Mãe Santíssima. Chamando atenção pelo ventre crescido, que revelaria sua gravidez do Menino Jesus, a imagem comove quem vê, pela sua expressão de profunda beatitude e acolhimento maternal.

Imagens da Imaculada representando o que se chamou de "Culto à Expectação do Parto", foram comuns na Europa em séculos passados. O registro mais antigo vem de Portugal, datando de 1212, dando conta que na localidade de Terras Novas venerava-se uma imagem da Senhora nessas circunstâncias, na capela-mor da Igreja de Santa Maria do Castelo. Ali, como no restante da Península Ibérica, elas eram cinzeladas em pedra ou feitas em terracota, porém, nas versões reproduzidas no Brasil durante os primeiro anos da Colonização, foram confeccionadas em argila ou talhadas na madeira.

Desde então, pede-se sua intercessão para abençoar nascimentos e aliviar as dores das parturientes, pelo o que a Puríssima passou a ser conhecida também como Nossa Senhora do Livramento, por ajudar na "liberaração do ventre” das mulheres grávidas.

Nossa Senhora das Mercês também teve outras representações. Por ter sido venerada como protetora dos escravos e cativos, foi simbolizada, por exemplo, segurando grilhões rompidos.

Em meados do séc. XIX, o Papa Pio IX, na bula Ineffabilis Deus, definiu o dogma da Imaculada Conceição de Maria, preservando a Virgem Maria “jamais poluída pela mancha do pecado”. Extrapolando no zelo, muitos padres decidiram pelo banimento de toda iconografia da Madonna grávida, enterrando-a sob os altares das igrejas. Assim foi feito e somente em fins daquele mesmo século, quando a proibição foi abrandada, muitas dessas imagens proscritas foram resgatadas e reabilitadas. Por nada disto, porém, passou a santa em São Luiz do Paraitinga, onde sempre permaneceu descoberta no altar e cultuada.

Em tempos idos, as bênçãos da Santa eram igualmente invocadas pelos escravos do vale do Paraíba, em pedidos por liberdade. O ato resgatava as origens da Nª Sª das Mercês, patrona da Ordem de La Merced, dos padres Mercedários, surgida em 1218, promovendo a luta pela libertação dos mouros postos em cativeiro na Espanha.

A imagem pertencente a São Luiz do Paraitinga, foi trazida por uma devota em 1809, cinco anos antes da inauguração de sua capela, construida exatamente para abrigá-la. Sua origem mais provável é a Peninsula Ibérica.

Em uma futura postagem contaremos mais sobre as imagens da santa grávida.

                                      Invocação de Padre Vieira (*)

“Nossa Senhora da Vitória é dos conquistadores; do Desterro é dos peregrinos; da Lua é dos desencaminhados. Mas a Nossa Senhora das Mercês é de todos. Porque a todos, indiferentemente, está prometendo e oferecendo as mercês que lhe pedirem.

Estais tristes e desconsolado ? Não é necessário chamar pela Senhora da Consolação. Valei-vos da Senhora das Mercês e ela vos fará a mercê de vos consolar. Estais aflito e angustiado ? Não é necessário chamar pela Senhora da Angústia.
Valei-vos da Senhora das Mercês e ela vos fará a mercê de vos acudir nas vossas angústias. Estais pobre e desamparado ? Não é preciso chamar pela Nossa Senhora do Amparo. Valei-vos da Nossa Senhora das Mercês que ela vos fará a mercê de vos amparar.
Estais embaraçado e temeroso em vossas pretensões ? Não é necessário chamar Nª Sª do Bom Sucesso. Valei-vos à Virgem das Mercês que ela vos fará a mercê de vos dar o sucesso que vos convém.
Estais enfermo e desconfiado dos remédios ? Não é necessário chamar pela Nossa Senhora da Saúde. Acudi à Senhora das Mercês e ela fará a mercê de vo-lo dar saúde, se for para seu serviço.
Estais, finalmente, para embarcar o que tendes ? Não é necessário chamar pela Nossa Senhora da Boa Viagem. Acudi à Senhora das Mercês e ela vos fará a mercê de vos levar em paz e a salvo. De sorte que todas as atenções que Nossa Senhora costuma dar, invocada sob tantos diferentes títulos, como os que pelo mundo e em nossa pátria lhe são atribuídos, todos estão incluídos neste das mercês, porque nele se contém todos.”

(*) Padre Antonio Vieira (Lisboa, 06 de Fevereiro de 1608 – Bahia, 18 de Julho de 1697), foi um religioso místico jesuíta, inspirado escritor e orador, notável personagem dos Velho e Novo Mundo, onde viveu.

Postado Por: Enéas M.F.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Walden, de Thoreau - Sexta Parte‏

Catre de Threau em sua cabana


O PODER DA PRIMAVERA

   "Ao ir morar no bosque, um dos atrativos era que assim teria o vagar e a oportunidade para assistir à chegada da primavera.

   Numa agradável manhã de primavera, todos os pecados dos homens serão perdoados. Um dia desses é uma trégua ao vício. Enquanto continuar a arder um sol como esse, o pecador mais vil poderá voltar atrás.

   A cada dia, um retorno à bondade no tranquilo e benfazejo ar da manhã, faz com que, no que diz respeito ao amor da virtude e ao ódio do vício, a pessoa se aproxime um pouco da natureza primitiva do homem, como os brotos da floresta que foi derrubada."

ECOSSISTEMA

   "A vida de nosso povoado estagnaria se não fossem as florestas inexploradas e as campinas que o circundam.Precisamos do tônico da natureza selvagem, de vadear uma vez ou outra nos pântanos.

   Não podemos nunca nos fartar da natureza. Devemos ser reconfortados pela visão do inesgotável vigor, seus traços vastos e imensos.

   Precisamos testemunhar a transgressão de nossos próprios limites, de ver criaturas pastando em liberdade por onde nunca nos aventuramos."

"O INQUILINO DO AR"

   "O gavião não era solitário, mas fazia com que a terra toda embaixo ficasse solitária."

PRAGMATISMO

   "A compaixão é uma base muito insustentável. Deve ser rápida. Suas súplicas não suportam ser estereotipadas."

CONTENTAMENTO

   "Quem me dera achar o galhinho em que ele pousa !" Isso mesmo, ele; isso mesmo, o galhinho !
(Sobre um pintarroxo, ao anoitecer.)

Postado por: Enéas M.F.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Walden, de Thoreau (Quinta Parte)‏

O lago Walden

Realismo fantástico

"Em vez de frequentar um erudito, fiz várias visitas à determinadas árvores, de espécimes raras da circunvizinhanças, das que se isolam no meio de alguma pastagem, no coração de um bosque ou de um pântano, ou num cimo de colina.
Passando pelo caminho de pedestres ao longo da estrada de ferro, costumava maravilhar-me com o halo de luz ao redor de minha sombra, e de bom grado imaginava estar entre os eleitos.

A verdadeira colheita do meu dia-a-dia é algo de tão intangível e indescritível como os matizes da aurora e do crepúsculo. O que tenho nas mãos é um pouco de poeira das estrelas e fragmentos de arco-íris."

Sobriedade

"Creio que a água é a única bebida para um homem sensato.
De todo o tipo de embriaguez quem não prefere ser intoxicado pelo ar que respira ?"

Sobre comida e gula

"Creio que toda pessoa desejosa de preservar as condições ideais de suas faculdades superiores ou poéticas, é particularmente inclinada a abster-se de alimento animal, bem como de excesso de qualquer tipo de comida.

O comilão grosseiro é um homem em estado larvar; há nações inteiras nessa situação,nações sem fantasia e imaginação, cujos ventres volumosos as denunciam.

Não vale a pena alimentar-se com uma culinária rica.

Quem distingue o verdadeiro sabor de seu alimento jamais será um glutão, como certamente o é quem não distingue.

O que causa espanto é como eles, vós e eu, podemos levar essa vida réles e bestial, sempre a comer e beber."

Um pensamento

"Se a alma não é dona de si mesma, a pessoa olha e não vê, escuta e não ouve, come e não sabe que gosto tem a comida".

Postado por: Enéas M.F.

domingo, 7 de novembro de 2010

O aparente nada

Paraitinganas fantásticas - I

Portão "suspenso" de uma casa na rua Benedito Pires da Rocha

                                   Além do portal,

há uma promessa de jardim,

uma certeza de horizonte,

uma falta de terreno

e uma ampla perspectiva.

Só não tem propósito.

Não ?

Imagine se tivesse.
 
Postado por: Enéas M.F.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Walden, de Thoreau - Quarta Parte‏



Sobre o tempo

"O tempo é apenas o rio onde vou pescando."


Sobre o retiro e a solidão

"Não pode haver melancolia muito negra para quem vive em plena Natureza e mantém os sentidos serenos.

"Enquanto desfruto da amizade das estações, confio que nada pode fazer da vida uma carga para mim.

"Nunca encontrei companhia que fosse tão fiel como a da solidão. Na maioria das vezes somos mais solitários quando circulamos entre homens.

"Deus é só, porém o demônio está longe de ser só; ele é legião(*).

"Não sou mais do que uma pancada d'água em abril."


Sobre a exploração desmedida da terra

"Por avareza, egoísmo e um hábito rastejante do qual nenhum de nós está livre, o de encarar o solo como propriedade ou como meio de adquirir propriedade, a paisagem é deformada, a lavoura é degradada e o agricultor vítima da pior das vidas. Conhece a Natureza, porém como saqueador.

"Não respeito seu trabalho, nem sua fazenda, onde cada coisa tem seu preço; um sujeito que levaria ao mercado sua paisagem e seu deus, se conseguisse com isso algum dinheiro.

"Um sujeito em cuja fazenda nada cresce gratuitamente, os campos não produzem colheitas, nem as campinas flores, nem as árvores frutas, apenas dólares. Assim é a fazenda modelo.

"Falais dos céus, vós que degradam a terra."


Sobre o papel dos livros

"É algo ao mesmo tempo mais íntimo de nós e mais universal do que qualquer obra de arte.

"As coisas que ora parecem inexprimíveis, podemos encontrá-las impressas em algum lugar.

"Gastamos mais com artigos voltados à nossa alimentação e à doença, do que os destinados a suprir a mente.

"Muita coisa é impressa, mas pouco é o que deixa impressão."


Uma citação

"Não há ninguém mais feliz no mundo, a não ser os seres que gozam livremente de um vasto horizonte."
(Damodara)

(*)Nesta visão transcendentalista, Deus e demônio podem ser substituidos pela Verdade, e o segundo pela Mentira, por exemplo.

O Transcendentalismo, do qual Thoreau participava, era uma corrente de pensamento que acreditava em uma realidade superior à experimentada e limitada pelos cinco sentidos e a razão. Quanto à espiritualidade, entendia o papel divino como uma força amigável, ligada à Natureza e à simplicidade, questionando assim o caráter opressor das igrejas.

Este movimento artístico, cultural e espiritual de novas idéias, criado em meados do séc. XIX na Nova Inglaterra (EUA), teve como principal mentor o maior filósofo norte-americano, John Waldo Emerson.

Postado por: Enéas M.F.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Walden, de Thoreau - Terceira Parte

Interior da cabana de Thoreau
PLENITUDE

"É manhã quando eu acordo e há em mim um permanente amanhecer"

VIVENDO DE MANEIRA PRÓPRIA

"Não gostaria que alguém adotasse meu modo de vida por motivo nenhum.
Gostaria,sim, que cada um se empenhasse em descobrir seu próprio caminho, em vez do trilhado por seu pai, sua mãe ou seu vizinho.
Que o jovem construa, plante ou viaje, contanto que não seja impedido de fazer aquilo, que, segundo ele, gostaria de fazer.
Podemos não chegar a um porto dentro de um determinado prazo, mas devemos nos conservar na rota certa."

VIVENDO COM SIMPLICIDADE

"Nossa vida é estilhaçada pelo detalhe.
Um sujeito honesto dificilmente precisa contar além de seus dez dedos.
Ocupai-vos de dois ou três afazeres, não de cem ou mil.
Porque teríamos de viver com tanta pressa, esbanjando vida ? Decidimos morrer de fome antes de sentirmos fome.
Simplicidade, simplicidade, simplicidade."

VIVENDO COM PARCIMÔNIA

"Descobri que trabalhando seis semanas por ano, poderia cobrir todas as despesas necessárias à minha sobrevivência.
A automanutenção neste mundo é um passatempo, se a pessoa viver de modo simples e sábio."

VIVENDO LIVRE

"Enquanto for possível, vivei livres e sem compromisso."

SOBRE FILANTROPIA

"A caridade, como outras ocupações, exige vocação. Quanto a prática do bem, eis uma profissão muito concorrida.
Não há cheiro pior do que o que emana da bondade corrompida.
Não vos limitei a ser provedores de pobres, mas tentai tornar-vos as próprias riquezas do mundo.
Se lhes dai dinheiro (aos pobres), dai-vos juntamente, em vez de apenas entregá-los em suas mãos."

SOBRE OS CORREIOS

"Em toda minha vida, não recebi uma ou duas cartas que valessem a tarifa postal."

SOBRE JORNAIS

"Também estou certo que nunca li nos jornais nenhuma notícia notável. Entretanto não são poucos os ávidos por bisbilhotice.
Novidades ! muito mais importantes saber daquilo que nunca fica velho."




domingo, 24 de outubro de 2010

Se essa rua fosse minha


"Vai aqui um apelo ao bom engenho dos homens públicos dos dias de hoje, principalmente a quem cabe cognominar, nomenclaturar, denominar, o diabo que seja ou vernáculo que encaixe. Tudo “ por um freio à torpe adulação nacional, fazendo votar uma lei para voltarem os nomes antigos, lusos,Tupis ou Tapuias, aos lugares deslustrados pelos nomes ilustres de celebridades passageiras. Era regra geral que os povos somente davam nomes de acordo com os acidentes de terrenos os fatos históricos, as lendas e a índole de sua língua ”.Os nomes de indivíduos dados a locais, ruas, cidades, etc, eram raríssimos no espaço e no tempo. Tal colocação, sem o doentio sentimentalismo de conservadores natos, visa tirar da lembrança aos homens de hoje e que cujo engenho sobejavam aos homens de outrora de que dar nome a uma rua era um fator da cultura e que se hoje não tomado o devido cuidado e esmero, incorre no incompreendido desprazer da frase: - Putz. A rua sumiu ! Mas se alguns acharem que isto é deselegante e execrável eu repito o final da frase do mestre Gustavo Barroso acima transcrita ... celebridades passageiras... Se amanhã, as gerações futuras se vestirem de algum exterminador como o cinema hodierno oferece, e resolver mudar todos os nomes como o vírus do computador apaga a memória deste, todo direito terá estas gerações de se adequarem aos personagens de seu universo, de seu mundo, de sua época os nomes que quiserem dar as suas ruas enquadrando-as nos seus tempos e a memória curta da história, não terá nada para contar, se assim continuarmos fomentando tais iniciativas irreflexivas e incultas. Muito mais sábio era o homem do passado, pois tinham o tino e o engenho de, em cima do aspecto físico e geográfico, nomenclaturar as ruas, logradouros e cidades. São Luiz do Paraitinga cujo nome é uma homenagem ao Saint Louis de Tolouse, o franciscano da Ordem devotada a pobreza extrema e o complemento o Paraitinga, linguagem que em Tupi quer dizer Pará = mar, rio caudaloso, e tinga = branco, traduzindo a expressão por completa pode se dizer: S. Luiz do Rio das Águas Claras. Pegando a chave com São Pedro de Catuçaba (Distrito) , Catussaba poderíamos dizer que em Tupi o complemento nos oferece chamar o nosso distrito de São Pedro da" Boa Gente e de Clima Saudável". Tudo antigamente tinha um sentido e um porquê, pois vejamos alguns nomes de ruas do passado que embutia o coletivo e tinha o bom senso de nunca dar chance a individualidade:


Rua da Quitanda = onde se concentrava os quitandeiros da cidade daquela época.


onde as tropas vindo com o ouro das Minas Gerais passavam a caminho do Sertão indo para o Porto de Ubatuba ou Parati.




onde se tinha uma bela visão panorâmica e privilegiada da cidade e hoje rua Oswaldo Cruz.



 
rua de grande importância onde se concentravam os que detinham a o poder e a riqueza da época.



como o próprio nome diz onde quem se instalava, bem ficava pela excelência de seu aspecto físico e panorâmico.
Portanto se justificava e havia complementação, harmonia e zelo, havia inteligência observação e integração com o social e a natureza, hoje como diz Manoel Bandeira em seu poema de exaltação a Recife ...


... “ Rua da União ...
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância.
Rua do Sol (tenho medo que hoje se chame Rua Dr. Fulano de Tal )..."

Contei com o apoio entres aspas no inicio deste texto e a inspiração na complementação do mesmo , do mestre Gustavo Barroso para reescrever tal artigo dentro do universo luizense...

Benito Campos

Música - composição de domínio público
arranjos: Alida Cuoco
Vozes: Líria Cravo, Sophie Kolk, Beto Olliveira

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Walden, de Thoreau - Segunda Parte

O lago Walden ao amanhecer
SOBRE OS INVENTOS

"Nem sempre há um avanço positivo com o que chamamos de progressos de hoje em dia. Nossos inventos costumam ser belos brinquedos que distraem atenção das coisas sérias. Não passam de meios aperfeiçoados para se atingir um fim que não se aperfeiçoou, um fim que já se encontrava lá."


SOBRE PIRÂMIDES E MONUMENTOS EM GERAL

"Em vez de se autocelebrarem por meio da arquitetura, as nações não deveriam fazê-lo pelo poder de seu pensamento abstrato ? O Bhaghavad Gita é muito mais admirável do que todas as ruínas do Oriente. Torres e templos são lixos de príncipes. A mente simples e livre não moureja sob ordem de nenhum príncipe.

"Da minha parte, gostaria de saber quem nessa época deixou de construí-los, quem estava acima de tais ninharias.

"Que tal se esforços semelhantes fossem despendidos (pelas nações) no sentido de aperfeiçoar e polir sua conduta ?

"O amor à arte dos construtores ocorre em todo o mundo, trate-se de um templo egípcio ou de um banco norte-americano."


ALIMENTAÇÃO, SOB A PERSPECTIVA DO RETIRO

"Aprendi com a experíencia de dois anos, que custaria inacreditavelmente pouco trabalho obter-se a alimentação necessária. E que o homem pode adotar uma dieta simples e assim conservar-se saudável e forte.

"Consegui jantar satisfatoriamente com um simples prato de beldroega (portulaca oleracea), que apanhei no meu roçado de milho, cozinhei e temperei com sal. Atribuo ao latim o apetitoso do nome do trivial."

"Contudo, os homens chegaram a tal ponto que amiúde morrem de fome, não por falta do necessário, mas por falta do supérfluo."


SEM DEPENDER DO FERMENTO E DA FARINHA DE TRIGO

"Estudei a antiga e indispensável arte de fazer o pão... Por acidente fiquei sem fermento..." Não acho que seja um ingrediente essencial. É mais simples e respeitável dispensá-lo.

"Qualquer habitante da Nova Inglaterra pode facilmente colher os ingredientes do pão sem precisar depender de mercados distantes e instáveis."


UM PONTO DE VISTA

"Desperdiça-se a melhor época da vida sacrificando-se para ganhar dinheiro, com vista a usufruir uma duvidosa liberdade na velhice."

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O despertar da consciência‏

Nos idos de 1845, quando os Estados Unidos viviam os anos dourados que antecederam a sangrenta guerra da Secessão (1861-65), uma experiência única tomava curso em silêncio nas entranhas do país. O escritor e filósofo Henry David Thoreau mudava-se para uma cabana que construira com as próprias mãos, ao custo de US$ 28,13 no bosque profundo de Walden Pound, nas cercanias de sua Concord natal, no Massachusetts.



Durante dois anos, dois meses e dois dias, num período em que, segundo suas próprias palavras, "procurei exaurir todas as vantagens da solidão, sendo rico querendo pouco", viveu em completa imersão de consciencia, praticando também a agricultura de subsistência.

Das reflexões que dali emergiram, ele concluiu que o homem não está acima da natureza, mas é parte dela. Nesta cosmovisão, antecipou a necessidade de se proteger o ecossistema para assegurar a sobrevivência da Humanidade.



Além de analisar as relações entre o meio ambiente e os seres que nele vivem, alinhavou uma sensível análise filosófica da condição humana. Concluiu da frustração que sufoca o que de melhor existe no Homem, devido ao tipo alienado e mecânico de vida que se submete. E da qual sobrevém os piores defeitos do materialismo.



- Fui para a floresta porque desejava ter total controle sobre minha existência e escolhi me defrontar com os fatos essenciais da vida e ver se aprendia o que eles tinham para me ensinar, de modo evitar ser surpreendido na hora da morte, por não ter vivido. Não queria viver o que não era a vida. Viver é tão maravilhoso, e eu nem pretendia praticar a resignação - confessou.



Deste retiro existencial e suas abstrações, sem histeria ele escreveu "Walden or A Life in the Wood", um livro que se revelou além de sua época e dos mais surpreendentes jamais publicado, lançado em 1854.



Foi um dos primeiros a apontar o alto preço que o progresso a qualquer custo viria a cobrar, o deslumbramento do homem pelo supérfluo, os duvidosos valores sociais e as mazelas da ganância humana.



Este libelo inquietante contra o individualismo predatório e a desumanização das relações pessoais, que viriam a ser os traços mais marcantes do american way of life, sobretudo, transformou-se, um século depois, na base espiritual dos movimentos hippie, ecológico, anticonsumista, entre tantas outras tendências.



Dentro de um estrutura literária originalíssima, a obra aborda aspectos econômicos, antropológicos e filosóficos, com uma espontaneidade que vai do pedante ao introspectivo, no curto espaço de poucos parágrafos. O mesmo se dá ao descrever a exuberância das quatro estações, esmiuçadas, ora de forma científica, ora em profunda comunhão espiritual. Por exemplo, após observar a vida que renasce do lodo e o sobrevoo do gavião do charco na primeira manhã da primavera, questiona: "Num momento desses, o que significam histórias, cronologias, tradições e todas as revelações por escrito ?"



Da legião de pensadores que veio a influenciar, destacam-se o russo Leon Tolstói e Martim Luther King, Mahatma Ghandi, em uma legião que nunca parou de crescer.



Ao longo de sua curta vida de 45 anos, abreviada por tuberculose fatal, em 1862, Thoreau foi ele próprio um personagem autêntico. Formado em Literatura e Línguas por Harvard, era homem de muitos outros talentos. Por exemplo, foi um pioneiro no desenvolvimento do grafite para uso na escrita, cujo processo de produção ele aperfeiçou, em benefício da fábrica de lápis de sua família.



Não enxergava serventia nas notícias dos jornais ("Poluem com banalidades a nossa mente, templo de reflexões"). Místico e solteirão empedernido, era defensor do trabalho com prazer, mas indisposto com as boas maneiras e a caridade cristã.



Homem de aguçada intuição e rara integridade pessoal, Thoreau protagonizou também outra manifestação histórica, um ano após ter se retirado da civilização e embrenhado na floresta.



Por discordar do uso dos recursos públicos para custear uma guerra com o México, além de manter uma política escravista, David Thoreau deixou de pagar impostos federais, atrasados desde seu recolhimento ao bosque. Por isto, foi preso pelas autoridades locais.



Das lições tiradas deste breve episódio - foi solto no dia seguinte, depois que sua tia Marie, coberta de vergonha, pagou os tributos - se valeu para escrever o ensaio "A Desobediência Civil", de 1849, abordando o poder na sociedade democrática e o relacionamento do indivíduo com o governo, na sua defesa contra lei injustas.



Muitas décadas depois, Ghandi baseou-se na filosofia deste trabalho para lançar as sementes da luta pela independência da Índia, em seu movimento de resistência pacífica contra a Inglaterra. Era a desobediência civil na prática, contra ordem vigente.



- Deve o cidadão em qualquer momento, e até mesmo no menor grau, decidir contra a sua consciência e a favor da lei ? Então por que cada homem possui uma consciência ? Creio que deveríamos ser primeiro homens e depois súditos - ponderou Thoreau.



Na leitura que fazemos hoje desta longínqua obra transcendental, é natural que algumas das palavras de Thoreau pareçam excessivamente românticas, outras vezes arrogantes ou mesmo quixotescas. Mas pela controvérsia que ainda continuam despertando, mostram que continuam atuais, assim como a humanidade ainda permanece por demais inconsequente e fútil.



O trabalho que iremos publicar em capítulos, apresenta destaques selecionados da edição brasileira do livro "Walden ou A Vida nos Bosques. Inclui A Desobediência Civil" (Editora Ground).O objetivo, como muito do livro, é provocar a curiosidade pela obra e refletir seu conteúdo. A seguir, o primeiro capítulo.

Cabana onde Throreau morou em Walden


DO RETIRO NA FLORESTA
   "Ninguém pode ser um observador imparcial e sábio da raça humana, a não ser da posição privilegiada que chamaríamos de pobreza voluntária."
 A QUESTÃO EXISTENCIAL
  "Os homens, em sua maioria, levam vida de sereno desespero. Vão das cidades, sem perspectivas, para o campo, sem futuro...
  Uma desesperança estereotipada, mas inconsciente, esconde-se sob os chamados jogos e diversões da humanidade...
  Somos completa e sinceramente forçados a viver nossa vida negando a possibilidade de modificação."
   FALSOS VALORES
   "A maioria dos luxos e dos chamados confortos da vida, não só são dispensáveis como constituem obstáculos à elevação da humanidade...
   Também tenho em mente a classe dos que sendo poderosos na aparência, empobreceram mais do que todos, acumulando trastes que não sabem como usar, nem como jogar fora...
   Quando já se conquistou o necessário à vida, surge uma alternativa que não a de obter supérfluos, ou seja a de aventurar-se na vida...
   Casas com quartos vazios para homens vazios."
   DE FILÓSOFOS E FILOSOFIA
   "Os antigos filósofos eram uma classe que se notabilizava pela extrema pobreza de seus bens exteriores, em contraste com a riqueza interior...
   Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia, porque um dia foi admirável vivê-la...
   Ser filósofo não é apenas ter pensamentos sutis e fundar uma escola, mas amar a filosofia a ponto de viver, segundo seus ditames, uma vida de simplicidade, magnanimidade e independência...
   Ser filósofo também significa solucionar alguns problemas da vida, não só na teoria como na prática."
   QUESTIONAMENTOS
   "Por quê será que os homens degeneram sempre ? O que leva suas famílias a se acabarem ? Qual é a natureza do luxo que ergue e destrói nações ? Estamos certos que essa natureza (Walden) não existe em nossas vidas ?...
   Uma geração abandona as conquistas da outra, como se fossem barcos encalhados."
    SOBRE CAMISAS
   "As camisas são nossas verdadeiras cascas, que não podem ser removidas sem destruir o homem...
   Acredito que todas as raças, em alguma temporada, usa camisas...
   É conveniente que a pessoa se vista com tamanha simplicidade que, se a cidade for sitiada pelo inimigo, possa ir-se embora na maior simplicidade."

Postado por: Enéas M.F.