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Território chamado Paulistânia em 1790 |
- Final -
O primitivo isolamento da comunidade paulista fez enraizar
uma forte
mentalidade regionalista
Sorocaba, a capital do
tropeirismo, situava-se em posição privilegiada como rota de saída
e entroncamento estratégico. A
noroeste estava Goiás e Mato Grosso, ao norte, Minas Gerais, passando por São
Paulo e Vale do Paraíba, sendo também rumo ao Rio de Janeiro.
O resultado
dos três movimentos – bandeirantismo, monções e tropeirismo – foi a colonização
de um território conhecido por algum tempo como Paulistânia, abrangendo parte
expressiva do País (como mostra a ilustração acima).
Por toda essa área de
influência foi surgindo o que se chama em terminologia econômica, camadas
intermediárias da população. Esse novo estrato social estava voltado ao negócio
de abastecimento dos núcleos populacionais florescentes no sertão.
Os proventos
gerados pela mineração resultou no acúmulo de capitais e a formação de um novo e
ávido mercado consumidor, insuflando o comércio. Que por sua vez,mais tarde
possibilitou a expansão agrícola, como o florescimento do ciclo cafeeiro, entre
inúmeras outras atividades econômicas, responsáveis, por
consequência, pela geração dos recursos que vieram a
financiar a industrialização paulista.
Confirmou-se a máxima
pela qual, para acasalar-se à terra, deitar raízes e florescer numa estável
abundância, seria necessário anteriormente caminhar. Ou seja, "buscar remédio"
sertão a fora.
Fonte: Essa série é uma
compilação da coleção Terra Paulista - Histórias, Arte
e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e
seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente
produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e
Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
O Brasil que falava nheengatu
Nota do Redator - A
autêntica língua brasileira é o nheengatu ("fala boa"), que foi dominante no
País por um largo tempo. No Brasil Colônia, era idioma corrente de
brasileiros de todas as classes sociais, em uma área do País que ia de Santa
Catarina ao Pará. O português só era falado pelos estrangeiros colonizadores,
vindos da metrópole distante.
O Nheengatu, um idioma
puramente oral, é uma derivação da linguagem falada pelos índios tupi, mesclada
com o português arcaico. Ele foi criado no século XVI pelos missionários
jesuítas para atender as necessidades dos silvícolas, que tinham dificuldade em
pronunciar muitas palavras portuguesas.
Nossos antepassados
brasileiros viviam muito bem com o nheengatu, mas a burocracia portuguesa que
vinha ao País, não mais conseguia se comunicar com todos seus subordinados na
língua materna. Sem dizer que aquele idioma interétnico atrapalhava os
interesses colonizantes. Mais do isso, era preciso fazer algo para enfraquecer
os tentáculos políticos dos jesuítas. Nos idos de 1758, por fim, seu uso foi
proibido pela Coroa.
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Indiazinha Karajá Foto Giselle Varga |
Mas o veto não significou
sua extinção. Quando aquela fala original brasileira foi banida das salas de
aula, o povo transportou muito de seu vocabulário para o dialeto caipira (do
tupi Ka’apir ou Kaa-pira, que significa “cortador de mato”, como eram chamados
os colonizadores pelos índios) a nova forma de comunicação que ganhava força em
parte da Nação.
Sua lembrança mais viva está ali até hoje quando ouvimos alguém
falar muié, poorta, zóio, tarrde, cuié, quintá,
etc.
Já vai longe o séc. XVIII,
quando 2/3 dos paulistas falavam o nheengatu e o restante o português, sendo a
maioria bilíngue.O tempo acabou por consolidar o português, mas o dialeto puro
resiste em alguns rincões. Ele ainda é falado em certos pontos da fronteira com
o Paraguai. Em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, a 860 quilômetros de
Manaus, um ato do Executivo de 2002 tornou o nheengatu língua co-oficial do
município, que é ensinado nas escolas.
Como herança herdamos um
falar todo especial, mais adocicado e de sonoridade agradável. No dia a dia do
nosso português popular do Brasil, ainda estão vivas entre nós muitas palavras
originais daquele longinquo idioma brasílico, como nhem-nhem-nhem,
jururú, xará, bagunça, mingau e pindaíba, além de tantas
outras.
Postado por: Enéas M.F.