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Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret |
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Quinta parte -
A pé, em canoa ou no lombo da mula, cidades
que caminham
A saga das monções terminou na primeira metade dos anos 1700, com a abertura do caminho terrestre para a província de Guaiazes (Goiás), mais adequado e ameno. Sem dizer que ia-se no lombo de burros, que podiam ser vendidos ao final da viagem. Começava o ciclo do tropeirismo.
A mula, animal híbrido, resultado do cruzamento do jumento com égua, povoava em
abundância as campinas do Rio Grande do Sul. Aos poucos foi se apresentando
como a melhor resposta às necessidades de movimentação de carga.
Trazê-la dos pampas era, por si só, mais um desafio. Tratava-se de um
percurso em torno de 1.500 km, na maior parte agradável, mas com alguns
trechos de mata fechada, atoleiros e despenhadeiros, além dos ataques de
saqueadores, índios e animais selvagens.
Talvez mais do qualquer outro movimento, o tropeirismo era uma fonte segura e
sistemática de negócios ao longo de seu traçado. E assim brotaram centenas de
povoados fixos, tendo muitos deles virado cidades.
Era um ótimo negócio, sobretudo aos donos de tropas,que se transformaram em
ricos capitalistas, agraciados depois com títulos do Império. Como os barões de
Antonina, de Iguape, dos Campos Gerais, entre outros.
O enriquecimento era proporcional à exploração dos subalternos. Enquanto os
donos das tropas ganhavam muito, os condutores, os camaradas, os cozinheiros,
que formavam a massa dos peões, percebiam uma remuneração irrisória diante do
trabalho e riscos envolvidos na empreitada.
Para se ter uma idéia
dos valores, uma cabeça de mula que custava entre um e dois mil réis na origem,
era revendida por até 27 mil no fim da jornada, em Sorocaba. Deste total, três
mil eram gastos com impostos, despesas menores e salários.
Fonte: Essa série é uma compilação
da Coleção Terra Paulista -
Histórias, Arte e Costumes (1º
Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus
habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido
pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
(N. do R) - Pelos dividendos da indústria
canavieira, o Nordeste foi o primeiro grande pólo econômico do Brasil, no
alvorecer da colonização. Pernambuco e Bahia reuniam o maior número de
engenhos, concentrados nas mãos de poucas famílias, que formavam a
aristocracia canavieira, patriarcal por excelência. De meados do século XVI,
estendendo-se por quase 200 anos, o País liderou a produção açucareira
mundial, garantido-se, em parte, pelo monopólio português na Europa. No
Velho Mundo, então,o açúcar deixava de ser uma especiaria de fins medicinais,
para substituir o mel como adoçante, consumido em larga escala.
Essa hegemonia
começou a ruir a partir da metade do séc. XVII, com a entrada em
concorrência dos produtos holandês e espanhol, vindos das Antilhas.
Assim como pela difusão do açúcar de beterraba nas mesas européias, feito
localmente.
Enquanto isto no
Nordeste ocorria o esgotamento das terras férteis da Zona da Mata pela
monocultura, elevando os custos operacionais dos engenhos. As florestas por sua
vez foram queimadas nas fornalhas de cozimento da cana, esgotando a grande
fonte energética conhecida. A atividade passou também a exigir investimentos
ainda mais vultosos, assim como mão de obra escrava crescente. Isto e
outros problemas estruturais precipitaram a decadência daquela era.
A riqueza começara
a migrar e florescer no Centro-Sul, com a descoberta de jazidas minerais
preciosas na região. Mais tarde, na segunda metade do séc.
XIX foi a vez de São Paulo despontar na liderança econômica, com o
surgimento de atividades perenes no campo e na indústria, onde
foi investido o capital acumulado por séculos "buscando remédio" fora de casa.
Postado por: Enéas M.F.
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