Menu

terça-feira, 17 de maio de 2011

Terra Paulista

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret
- Quinta parte -

       A pé, em canoa ou no lombo da mula, cidades que caminham

   A saga das monções terminou na primeira metade dos anos 1700, com a abertura do caminho terrestre para a província de Guaiazes (Goiás), mais adequado e ameno. Sem dizer que ia-se no lombo de burros, que podiam ser vendidos ao final da viagem. Começava o ciclo do tropeirismo.

    A mula, animal híbrido, resultado do cruzamento do jumento com égua, povoava em abundância as campinas do Rio Grande do Sul. Aos poucos foi se apresentando como a melhor resposta às necessidades de movimentação de carga.

   Trazê-la dos pampas era, por si só, mais um desafio. Tratava-se de um percurso em torno de 1.500 km, na maior parte agradável, mas com alguns trechos de mata fechada, atoleiros e despenhadeiros, além dos ataques de saqueadores, índios e animais selvagens.

   Talvez mais do qualquer outro movimento, o tropeirismo era uma fonte segura e sistemática de negócios ao longo de seu traçado. E assim brotaram centenas de povoados fixos, tendo muitos deles virado cidades.

   Era um ótimo negócio, sobretudo aos donos de tropas,que se transformaram em ricos capitalistas, agraciados depois com títulos do Império. Como os barões de Antonina, de Iguape, dos Campos Gerais, entre outros.

   O enriquecimento era proporcional à exploração dos subalternos. Enquanto os donos das tropas ganhavam muito, os condutores, os camaradas, os cozinheiros, que formavam a massa dos peões, percebiam uma remuneração irrisória diante do trabalho e riscos envolvidos na empreitada.

   Para se ter uma idéia dos valores, uma cabeça de mula que custava entre um e dois mil réis na origem, era revendida por até 27 mil no fim da jornada, em Sorocaba. Deste total, três mil eram gastos com impostos, despesas menores e salários.



Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
 

(N. do R) - Pelos dividendos da indústria canavieira, o Nordeste foi o primeiro grande pólo econômico do Brasil, no alvorecer da colonização. Pernambuco e Bahia reuniam o maior número de engenhos, concentrados nas mãos de poucas famílias, que formavam a aristocracia canavieira, patriarcal por excelência. De meados do século XVI, estendendo-se por quase 200 anos, o País liderou a produção açucareira mundial, garantido-se, em parte, pelo monopólio português na Europa. No Velho Mundo, então,o açúcar deixava de ser uma especiaria de fins medicinais, para substituir o mel como adoçante, consumido em larga escala.

   Essa hegemonia começou a ruir a partir da metade do séc. XVII, com a entrada em concorrência dos produtos holandês e espanhol, vindos das Antilhas. Assim como pela difusão do açúcar de beterraba nas mesas européias, feito localmente. 

   Enquanto isto no Nordeste ocorria o esgotamento das terras férteis da Zona da Mata pela monocultura, elevando os custos operacionais dos engenhos. As florestas por sua vez foram queimadas nas fornalhas de cozimento da cana, esgotando a grande fonte energética conhecida. A atividade passou também a exigir investimentos ainda mais vultosos, assim como mão de obra escrava crescente. Isto e outros problemas estruturais precipitaram a decadência daquela era. 

  A riqueza começara a migrar e florescer no Centro-Sul, com a descoberta de jazidas minerais preciosas na região. Mais tarde, na segunda metade do séc. XIX foi a vez de São Paulo despontar na liderança econômica, com o surgimento de atividades perenes no campo e na indústria, onde foi investido o capital acumulado por séculos "buscando remédio" fora de casa.

Postado por: Enéas M.F.

Nenhum comentário:

Postar um comentário