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domingo, 8 de maio de 2011

Terra Paulista‏

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret

- Quarta parte -

Um rosário de privações em territórios desconhecidos

 
     Um novo desafio estava lançado aos paulistas. As grandes distâncias, os formidáveis obstáculos naturais e outros fatores, impediam as saídas clássicas das bandeiras para se atingir fronteiras desconhecidas, exigindo uma modalidade inédita de empreitada, navegando pelos rios.
  Teve início então ao período das monções, a marcha dos exploradores que ia pelos rios, saindo pelos lados de Itu e Porto Feliz, a partir do rio Tietê.
  Começava uma experiência com poucos paralelos na história do continente americano, pelo grau de audácia exigido para superar tantas dificuldades.
  Havia expedições de todos os portes, com meia dúzia de embarcações e outras com até 300 canoas, como a do capitão-general de São Paulo, Rodrigo Cezar de Meneses, de 1726.
  Essa seqüência penosa chegava a alcançar 3.504 quilômetros, percorridos em até seis meses. Compreendia os rios Tietê, Paraná, Pardo, Camapuã, Coxim, Taquari, Paraguai, Parrudos e Cuiabá. O que alguém descreveu apropriadamente como ”um rosário de martírios através do mar de sertão".
  E não era sem razão. As condições favoráveis acabavam no rio Paraná,no salto de Itapura (noroeste paulista) onde havia uma corrente era contrária, que tinha de ser vencida a remo. Em muitos trechos, principalmente os de corredeiras, seguia-se mesmo por terra, puxados por juntas de bois através de picadas, passando por febres,escassez de víveres, naufrágios, insetos, ataques de feras e de índios. Enfim toda a sorte de privações, o que tornava frequente a debandada de membros do grupo.

Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)


N. do R. - Diferentemente do sudeste asiático, onde "monções" referia-se a um regime de ventos do verão, o termo foi adotado pelos bandeirantes para designar um período propício à navegação. Época esta de cheia dos rios, que criava condições favoráveis para as embarcações transporem obstáculos como pedras,corredeiras e pequenas quedas d'água. Evitava-se assim a estação da seca, quando a esses aventureiros obrigava a lombar as cargas e barcos por longos trechos de terra.
Cada expedição era formada por um comboio variável de batelões (canoas cavadas em troncos de árvores), transportando em media um total de cinco mil quilos em cargas, em expedições que duravam em torno de cinco meses. Carregava-se toda a sorte de utensílios à exploração das jazidas de ouro, assim como mercadorias para abastecer os povoados distantes.
 
Postado por: Enéas M.F.

Um comentário:

  1. Enéas, esse "rosário de martírios" foi mesmo muito forte. Há dois meses, visitando Coxim constatei que as monções são bem lembradas. Camapuã tem até uma festa. No Overmundo tem algo a respeito: http://www.overmundo.com.br/overblog/rota-norte-mais-um-projeto-sobre-as-moncoes
    Novamente cumprimento-lhe pela iniciativa de fazer um blog tão bonito e repleto de boas informações históricas e geográficas. Abraço fraterno e até.

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