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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Terra Paulista

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret
-Primeira Parte-

Na sobrevivência, um jeito próprio de ser

   Quase sempre quando se fala em visitar cidades históricas, vem à mente localidades como Ouro Preto, Parati, Salvador e Olinda. No entanto, as cidades paulistas fundadas na época do bandeirantismo e tropeirismo, também guardam belos resquícios históricos de uma saga que influenciou profundamente a formação do Brasil.

   Nessas paragens, começando pela arquitetura doméstica, passando pelas roupas, chegando aos alimentos, vamos encontrar algumas das marcas deste passado aventureiro. Que se manifestam também nos sotaques de sua gente, nas roupas que vestem, nos odores dos fogões a lenha, nas músicas e cantorias, nos contos e um sem fim de festas populares.

   Os traços desta herança podem ser encontrados em fotos remanescentes nas paredes, na visita a uma antiga sede de fazenda ou mesmo morando nela. Ela também se abriga numa antiga cantiga de ninar, que entoada, faz ecoar uma longínqua lembrança africana.

   O passado está ao alcance das mãos, quando tocamos as rendas de uma toalha sobre a mesa ou repousamos numa rede. Assim como no colo da moça, que enfeita um pequeno camafeu e mesmo quando saboreamos um doce de tacho, resgatado de um velho caderno de receitas da família, de que herdam sucessivas gerações.

   São momentos que formam uma imperceptível cadeia de aconchegos e memórias, de onde surge a deliciosa sensação de estar em casa. São legados de um tempo remoto, sedimentando na memória e que moldam a natureza do ser paulista.

   Tudo começou num passado distante, provavelmente ao abrigo de uma tapera, à beira de algum rio que cortava o planalto de Piratininga. Alí forjava-se uma expressão verbal tipicamente paulista, a primeira e mais forte delas: “buscar remédio”.

   Em voga desde o fim do século XVI até o início do XVII, ela tinha a conotação especial de buscar a vida fora de casa. Mais do que sair atrás de riqueza, pedras preciosas e índios, representava sobrevivência pura e simples. Naquele fim de mundo, ela significava, sobretudo, a procura de alternativas à pobreza, da dura vida que se tinha no planalto de Piratininga, onde os religiosos fundaram a vila de São Paulo.

   Essa motivação que obrigava os homens se ausentarem do povoado, embrenhando-se no sertão, foi um fenômeno eminentemente prático que abrangeu três distintos capítulos da história paulista: o bandeirantismo, o movimento monçoeiro e o tropeirismo.
Tudo movido por um dinamismo pragmático, mas que naquele primeiro momento significava apenas a sobrevivência.


Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)
Postado por: Enéas M.F.

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