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domingo, 17 de abril de 2011

Terra Paulista

             -Segunda Parte-

    Além das fronteiras consabidas, um mar de sertão

   No entanto, quase como uma herança genética, essa inquietação veio a se tornar uma característica da personalidade do povo local. O que significava nos primórdios um esforço de sustento, depois promessa de enriquecimento, tornou-se com o passar do tempo em um modo de viver, um jeito de ser paulista.
   Surgia nos hábitos e costumes um novo rito de passagem, pelo qual, gerações de meninos de treze ou quatorze anos foram levados a participar dessas expedições, marcando assim o início da vida adulta.
   Por outro lado, para a enorme legião de mamelucos que habitavam as vilas, isto representava uma oportunidade de rompimento com a marginalização em que viviam. Excluídos do mundo colonial e desprovidos de terras e títulos, essa gente enxergava no desbravamento dos sertões, talvez aquela que fosse a única chance real de redenção de suas vidas. A emancipação de uma cidadania de segunda classe.  
   As bandeiras eram empreendimentos de caráter estritamente particular. Em pouco tempo se tornaram um modo de vida inerente aos paulistas. Quase todos os dias havia uma chegando ou saindo das terras planaltinas de São Paulo.
   Exemplo típico de como se dava essa movimentação corriqueira, foram as atividades do bandeirante Manoel de Campos Bicudo, que durante a sua existência enveredou 24 vezes pelo sertão.
   (Nota do Redator) - O "marchar à paulista" era o nome que se dava ao hábito comum nas bandeiras, de andar a pé muitas léguas sem o uso de calçados, como faziam os índios. Invariavelmente começava ainda de madrugada e ia pouco além do meio-dia, mais tardar até duas ou três horas da tarde. Tempo para preparar a refeição, descansar e ajeitar o pouso, mesmo porque o período de insolação no sertão era curto.
   Portanto, a imagem do bandeirante usando botas de cano longo, comum em quadros e estátuas, não é nada mais do que um recurso artístico de glamurização do personagem.  

Fonte: Essa série é uma compilação da Coleção Terra Paulista - Histórias, Arte e Costumes (1º Vol.), que aborda a formação do Estado de São Paulo e seus habitantes. Outros dois volumes completam esse trabalho originalmente produzido pelo CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. ISBN 85.7060.295-2 (Imprensa Oficial do Estado)

Postado por: Enéas M.F.

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